segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Labirinto

De súbito tudo se tornou estranhou.
O ar mais espesso, respirar requer mais esforço.
O barulho do motor do ônibus parado e da música alta do passageiro ao seu lado se tornava ainda mais insuportável.
É preciso desembarcar, pensou.
Decidiu descer.
Com as portas quase se fechando conseguiu esgueirar-se e sair.
Desceu.
Na rua os ruídos das pessoas conversando, o cachorro latindo, dos automóveis... De tudo ao redor perfuravam a cabeça deixando-o enlouquecido.
Estava ofegante, o ar continuava cada vez mais pesado.
Não se sabe mais se anda ou corre.
Está perdido. Perdeu-se o controle.
A vontade é de correr, mas é preciso parar.
Vem a tontura. Parou.
A sensação de desespero tomou conta.
- Porque é assim? Porque acontece?
Sentou no ponto de ônibus, ficou durante alguns minutos olhando ao redor. Olhando com os olhos assustados, pensando em como estava tranqüilamente bem há alguns minutos e de repente todo esse medo, angústia, indefinição...
Uma sensação horrível.
O coração acelerado.
Tenta se acalmar, respirar com mais suavidade.
Consegue.
O medo como que de súbito veio, subitamente some.
Outro ônibus se aproxima.
Este também serve.
Dá o sinal e ele para.
Embarca e segue viagem.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Recebi algumas observações sobre meus posts. Por ser um blog, sugeriram que procurasse postar textos mais curtos e dinâmicos para não tornar a leitura cansativa e para que não me perdesse na idéia que quisesse transmitir neles.
Concordei com a crítica construtiva e decidi escrever textos menores. Porém, hoje, dia 29, aconteceram situações interessantes - para mim - e gostaria de dividi-las. Com isso, esse post será mais um daqueles enormes.
Para tentar não fazê-lo cansativo, dividirei em tópicos, assim poderás lê-lo em partes. Sugiro que leia cada dia uma parte - se preferir - pois como sabe o intervalo entre uma postagem e outra tem sido longo.

***

"Casa de ferreiro, espeto de pau"

Aconteceu hoje, no Sesc Pinheiros, a 1ª Conferência Internacional do FIB (Felicidade Interna Bruta). Após o término da segunda palestra, um dos responsáveis pelo setor de "programações" da unidade Pinheiros saiu da pláteia do Teatro e veio em direção a nós, auxiliares de atividades de apoio 2 (?) que estávamos sentados em um dos bancos do Foyer.
- Porra, tem um palestrante viajando na maionese lá no palco...
- Porque?
- O cara está falando que para ajudar no índice de felicidade de cada um, o ideal é que trabalhássemos apenas seis horas por dia.
- E porque está viajando? Na minha opinião é o correto...
- Como isso? É muito pouco... Imagine, nós servidores do Sesc trabalhando só isso. Impossível.
- Vi outro dia na Biblioteca uma publicação SESC do Le Corbusier e ele defende esse tempo de trabalho como sendo o ideal para o desenvolvimento social. Já que as outras ou três horas, trabalhamos como "mais valia" para os nossos patrões.
- Publicação SESC? Tem certeza?
- Absoluta. Veja na Sala de Leitura. Não sei se o livro se trata disso, mas sei que esse cara defende essa tese. Aliás, muitos caras escrevem sobre isso. Eles dividem o tempo do dia e para que possamos ter um tempo mínimo de, se não me engano, quatro ou seis horas de tempo ócio criativo, o ideal seria que trabalhássemos seis horas, já que temos que dormir oito horas e permanecemos aproximadamente umas quatro horas por dia nos locomovendo de nossas residências até o trabalho ou até a escola.
- Nossa, não sabia que existia isso.
- Existe. Aliás, outras publicações SESC sobre Ciências Socias falam sobre esse assunto, mas é normal achar estranho, eu também achei quando vi. Se você parar para pensar é fácil perceber que nós oferecemos o ócio criativo o tempo inteiro para as pessoas. Essa é uma filosofia do Sesc. Oferecemos o desenvolvimento intelectual, o desenvolvimento da saúde e bem estar, o do lazer e etc...
- Verdade... e nós trabalhamos até doze horas por dia dependendo da ocasião para proporcionar isso aos comerciários.
- Exatamente. Casa de ferreiro, espeto de pau.

***

"- É a auto-destruição do Capitalismo."

De pé, ao lado da porta "Platéia Ímpar" para que ninguém entrasse antes da abertura da platéia para o público vem em minha direção uma senhora loira, muito elegante, extremamente maquiada, com bótox e silicone acompanhando um garoto caderante:
- Olá, boa tarde, eu preciso acomodar meu filho na cadeira e para não atrapalhar o fluxo das pessoas, você deixa eu entrar com ele um pouco antes?
- Sim senhora, assim que eu for autorizado a abrir a porta aviso um pouco antes para entrar primeiro com ele, tudo bem?
- Tudo bem, obrigado.
- Aliás, o ingresso de vocês está ai? Posso vê-lo?
- Pode sim, mas por quê?
- Para ver se a senhora está na fileira A ou na fileira S.
- Não, mas ele é caderante, na fileira A vai atrapalhar, não vai?
- Não senhora. A fileira A e a S tem espaços para caderante. Preciso ver o ingresso, pois se for "A" encaminharei a senhora por elevador, ai desceriámos ao lado do palco pois aqui por cima não dá, tem as escadas da platéia.
- Entendi... Então queremos ficar na primeira fileira, por onde eu vou?
- Eu preciso ver o ingresso, pois se chegarmos lá e os ingressos da "A" estiverem vendidos a senhora terá que voltar aqui para cima. Para não ficar indo de lá para cá, sugiro que confirmemos antes de descer. Posso?
- Olha... sou a Presidente da Associação (ou fábrica, não lembro) de Brinquedos Interativos e, além disso, fui convidada da produção da Conferência e quero ficar lá em baixo.
- Senhora, infelizmente preciso confirmar a fileira.
- Olha aqui garoto, não vou mais discutir com você. Chame alguém da organização do Teatro agora. Se vai encher lá em baixo ou não é um problema de vocês. Não tenho nada a ver com isso. Quero ficar lá e pronto.
- Sim senhora, só um minuto.

Chamei um dos responsáveis pelo setor de "programações" do teatro. Ele veio, ficou por longos minutos conversando com ela. Os dois com a fisionomia séria e com os rostos avermelhados. Ele saiu. Voltou uma auxiliar de atividades de apoio 2 (como eu), conversa com ela e a conduz ao elevador que dá acesso a primeira fileira. Logo, ela ficará na fileira "A".

Depois que já havia começado o evento ele veio até onde eu estava e comentou que ela era extremamente grossa.

Passou o dia inteiro até que acabou o evento. Lembrei que ela estava lá em baixo com o garoto e fui encontrá-los para conduzi-los ao elevador novamente.

Quando cheguei o garoto estava extremamente feliz e falante:

- Nossa, essa americana me surpreendeu. É a primeira fez que vejo um norte americano assumir que os Estados Unidos estão destruindo a vida das pessoas do mundo inteiro.
- É verdade, também me surpreendi quando ela pediu desculpa e reconheceu que o capitalismo e o neoliberalismo desenfreado nos EUA vem destruindo o planeta.

Comentamos por mais alguns minutos e perguntei:

- A senhora quer ir para o estacionamento ou para a rua?
- Quero um táxi grande, você me ajuda?
- Sim senhora. Me acompanhem por gentileza.

Peguei a cadeira de rodas do garoto e fui conduzindo-o e conversando com ele sobre as palestras. A senhora começou a participar conosco e começamos um assunto super interessante sobre o FIB, Capitalismo e sobre "quanto mais temos, mais queremos".

Enfim, pedimos o táxi e enquanto o mesmo não chegava ficamos, os três conversando de igual para igual sobre esses assuntos. Ela me deu umas dicas de sites e agradeceu pela atencão. Eu agradeci pela conversa e pedi desculpa pelo mau entendido. O garoto saiu extremamente sorridente e disse que trabalhava com brinquedos. Era ele quem aprovava ou não os brinquedos da fábrica (ou associação) de sua mãe.

Ela perguntou meu nome, me chamou pelo nome e apertou minha mão.

***

"Quem vê cara, não vê coração."

Dia 29. Dia díficil, cansativo. 29, número importantíssimo, faz refletir e sentir saudade. Fiquei o dia inteiro pensando no número 29, dia 29. O dia inteiro também, fiquei de pé no foyer do Teatro acompanhando a 1ª Conferência Internacional do FIB (Felicidade Interna Bruta) e isso acabou comigo (fisicamente). Lá - no foyer - o celular não tem sinal e os telefones não fazem ligações externas e isso acabou comigo (psicológicamente).

Trem lotado, metrô lotado e onibus lotado.

Estava de pé, segurando-me para não cair no onibus da linha 001 Itapecerica da Serra - Parque Paraíso. Fiquei ao lado de um banco solitário (individual) perto da porta de saída do veículo bem atrás de um banco duplo onde estavam duas mulheres, ambas lendo um livro. A da direita, o lado do corredor, estava com uma touca de lã azul e branca, um visual meio hippie, meio reggae com um óculo marrom de armação grossa, saia longa, sandália e uma blusa também de lá (ou crochê). A esquerda, o lado da janela, estava um mulher loira do cabelo bem liso e brilhante, alta, com os olhos azuís-esverdeados (?), vestida com uma roupa social, calça preta, camisa branca, blaser preto, sapato modelo chanel de bico e salto fino também na cor preta.

Entrou no onibus um rapaz de bermuda jeans, chinelo Havaianas, camiseta amarela - suja - parecida com a da Seleção Brasileira, porém o escudo era da "Semana do Meio Ambiente 2008", cabelo amarrado ligeiramente longo (até o ombro) e com uma cesta, daquelas que usamos em supermercados quando vamos comprar poucas coisas, com umas balas dentro.

As moças estavam lendo seus livros. O rapaz colocou a cesta no suporte de pescoço do banco a frente do que elas estavam e o onibus seguiu viajem até que ele disse para a que estava no corredor:

- Moça, posso por a cestinha em baixo do seu banco?
- Pode sim, lógico. E se afastou para ajudá-lo.

A garota da janelo interrompeu sua leitura e disse:

- Ai moço, desculpe, achamos que você ia vender por isso não pedimos para segurar.
- Não, acabei por hoje, vou para a casa agora.
- Desculpe mesmo, seguraria para você.
- Tudo bem, já conseguimos colocar aqui em baixo e não vai atrapalhar ninguém.

Alguns minutos de silêncio e o rapaz volta a falar:

- Que livro estão lendo?

A do corredor mostra seu livro. Um romance, tinha amor no Título. Antes da outra falar, ele diz:

- Legal, estou lendo "O pequeno príncipe". Mas o do Maquiável, não o outro. (Não sabia que existem dois e nem sei se ele estava certo disso, ou até se ouvi certo o que falou).

A moça da janela disse:

- Estou lendo esse aqui. (Direito Civil por Silvio de alguma coisa...)
- Há sim... você que faz direito, já leu Maquiável?
- Já sim.
- Eu na verdade não gosto muito dele.
- Não? Por quê?
- Não tenho certeza para quem que ele escreveu sabe?
- Sim... eu também não gosto muito dele...

... e começaram um assunto interessantíssimo sobre Maquiável, Platão, Freud e Platão, ela falou sobre o seminário que teria que apresentar sobre o livro do tal Silvio que estava lendo, mas que estava achando muito chato e que era contra algumas leis...

A moça percebendo que o rapaz era inteligente com as citações dos livros tentou aprofundar o assunto para o direito e ele completou:

- Não posso comentar sobre isso. Sou leigo na área do direito. Li Maquiável porque jogo xadrez. Quem joga xadrez tem que ler Maquiável. Ele era um estrategista, né?!
- É verdade... "O fim justifica os meios"...
- Um amigo me disse que essa frase não é dele. Disse que foi dada a ele, mas que ele realmente nunca a disse...

... e continuaram o assunto. Interessantíssimo.

Acabou o assunto, pensei, ficaram quietos. Passados uns minutos:

- O que você acha sobre o suicídio? É um direito do cidadão, porque o estado é contra?

... e voltaram falando sobre se o suicídio pode ser considerado um crime a liberdade e a integridade fisica de cada um ou não.

A conversa tirou todos os pensamentos de minha cabeça. Esqueci dia 29, esqueci dores no joelhos, nos pés e nas costas. Aliás, chegou o meu ponto. Desci feliz, pensando nos dois... Naquela imagem diferente, uma garota linda, arrumada, universitária, conversando com um rapaz cheio de cicatrizes, feio, mal vestido, vendedor de bala em onibus, jogador de xadres, filósofo e suicída...

...estava chovendo muito forte.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Mostra Sesc de Artes 08 - 08/10 à 18/10


Arte Contemporânea

"A arte pode ser RUIM, BOA ou INDIFERENTE, mas QUALQUER que seja o adjetivo empregado, temos que chamá-la arte. A arte RUIM é arte, do mesmo modo como uma emoção RUIM é uma EMOÇÃO."
Marcel Duchamp, escultor francês

Percepção (da arte)

"Nenhuma experiência HUMANA se limita a um dos cinco sentidos. Os SENTIDOS se decifram uns aos outos."
Maurice Merleau-Ponty, filósofo francês

Contemplação (da arte)

"A arte é a CONTEMPLAÇÃO: é o prazer do espírito que PENETRA a natureza e descobre que ela também tem uma ALMA. É a missão mais sublime do homem, pois é o exercício do PENSAMENTO que busca compreender o UNIVERSO, e fazer com que os outros o compreendam."
Augusto Rodin, escultor francês


Deslocamento (à arte)

"(...) mude de CAMINHO, ande por outras ruas, calmamente, OBSERVANDO com atenção os lugares por onde você passa. (...) Veja o mundo de outras PERSPECTIVAS. (...) Não faça do hábito um estilo de vida. Ame a novidade. (...) TENTE O NOVO TODO DIA: o novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor, a nova vida. (...) EXPERIMENTE COISAS NOVAS. TROQUE NOVAMENTE. MUDE, DE NOVO. Experimente outras vez. (...) o mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. SÓ O QUE ESTÁ MORTO NÃO MUDA! (...)"
Edson Marques, poeta brasileiro

Arte é conhecimento

É claro que o HOMEM quer ser mais do que ele mesmo. Quer ser um homem total. Não lhe basta ser um INDIVÍDUO separado; além da PARCIALIDADE da sua vida individual, anseia uma "plenitude" que SENTE e tenta alcançar (...) que sente e tenta alcançar quando busca um mundo mais COMPREENSÍVEL e mais justo, um mundo que tenha SIGNIFICAÇÃO."
Ernst Fischer, escritor austríaco



Veja a programação no site www.mostrasescdeartes.com.br/blog/.

Vale a pena!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

"Dando um sinal de vida"

Como diria Josefh Clinver (ou Climber, não sei): "A vida é uma caixinha de surpresas".

Aqueles que me conhecem sabem que atualmente estou trabalhando muito e por isso não tenho conseguido dar continuidade ao blog.

Hoje não preparei nada especial, apenas decidi escrever algumas coisas sobre esses últimos dias e compartilhar um texto que achei super interessante.

Vamos lá...

Ultimamente, tenho me preparado para prestar alguns vestibulares, pois não vejo a hora de voltar estudar. Jornalismo, é claro!

Há uma semana, quase que exatamente isso, terminei de ler o livro Sagarana de Guimarães Rosa. Leitura complicada, linguagem díficil. Os personagens são pessoas muito simples, totalmente interioranas e falam com um sotaque caboclo que nos põem "em parafusos" as vezes. Fiquei quase um mês e meio lendo o livro e recomendo. Se você tiver paciência, leia. Vale a pena. No meu ponto de vista, é uma leitura fundamental.

Você gostou do filme O Alto da Compadecida? Se gostou leia, é muito parecido, são causos interessantíssimos e muito ricos. Não é tão simples explicar. Na verdade, acho que livro nenhum é possível. A leitura é algo muito pessoal e cada um absorve-a de maneira diferente. Enfim... livro lindo, um dos melhores que já li.

Estou no terceiro livro, este (o terceiro) é uma releitura na verdade. O famoso Dom Casmurro de Machado de Assis.

Já tinho lido quando mais jovem, em tempo de escola e achei, na época, interessante, mas no fundo... um porre.

Relendo, atualmente, crio uma visão totalmente diferente. Sem sombra de dúvidas é o melhor escritor que já li até hoje. As vezes paro a leitura e fico pensando: Não é possível que não tenha acontecido realmente essa história com o Machado de Assis! Como alguém inventaria uma história como essa?! Ele está disfarçando com o personagem Bentinho, mas na verdade isso aconteceu na infância dele mesmo....

A riqueza dos detalhes, as memórias de Bentinho, a postura totalmente variável da menina dos "olhos de ressaca": Capitu, são características que me fazem admirar muito o livro.

Lembro que quando li pela primeira vez demorei muito tempo para terminar e só terminei por obrigação. Hoje, lendo por apenas 4 dias e com pouco tempo para isso, já estou além da metade do livro.

Se tiverem ânimo, façam isso... releiam... caso não tenham lido ainda... leiam, uma leitura muito rica.

Bom, acho que é isso... meio vago não é? Desculpem, não tenho conseguido acompanhar muitos acontecimentos e nem tenho tido tempo de ociosidade construtiva para preparar alguma coisa. Tenho trabalho muito. Mesmo cansado, estou adorando o que faço. Não apenas o que faço em si, mas o todo... o ambiente é muito bom. Os espetáculos, intervenções, conversas de almoço... tudo muito gostoso.

Para terminar o post, decidi compartilhar um texto de Pablo Neruda que li na semana que se passou. Não sei o título e nem se o mesmo possui um, mas achei interessante.

"Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca, não arrisca vestir uma cor nova e não fala com quem não conhece. Morre lentamente quem faz da televisão seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro ao invés do branco e os pingos nos iis a um redemoinho de emoções, exatamente a que resgata o brilho nos olhos, o sorriso nos lábios e coração aos tropeços.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto, para ir atrás de um sonho.

Morre lentamente quem não se permite, pelo menos uma vez na vida, ouvir conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte, ou da chuva incessante.

Morre lentamente quem destrói seu amor próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, nunca pergunta sobre um assunto que desconhece e nem responde quando lhe perguntam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em suaves porções, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples ar que respiramos.Somente com infinita paciência conseguiremos a verdadeira felicidade."


"Pablo Neruda"

sábado, 2 de agosto de 2008

Virou história...

Após o dia cansativo de trabalho duro sob o sol escaldante que só um lugar tão distante pode sentir, eles seguem o caminho que já foi de ida e agora, graças ao suor derramado das testas queimadas de sol, é de volta, na estrada esquecida, fria e deserta.

- Dona Maria das Dores me irrita com seu jeito de levar as durezas da vida. O trabalho já é pesado e com suas vozes de tristeza, reclamações e maus agouros, transformam o serviço pior que é, e fica mais díficil do que bater em pedra dura no sertão sem sombra boa.

- Que isso Piraquê?! Comadre Maria sofre de doença, e das piores, ela está doente das idéias.
Nesses dias, que não se fazem muito, ela estava chorosa dizendo que sua sorte estava na tromba do trem velho que passa de noitinha pra nos buscar depois do dia de trabalho lá em ribá da estrada de terra vermelha.

- Que isso digo eu, Jandira! Mulher nova e saudável dessa, cheia de prosa pra viver desejando a sorte nos trilhos enferrujados de um trem velho sem destino?! Só Deus e meu padinho Padre Cícero que sabem é o que eu passo nessa vida sem futuro. Há pouco meu paisinho se foi e as coisas lá em casa tão díficil de chorar e nem por isso, minha cara, fico jogando minha sorte em morada de rato imundo! Ela tem que agradecer que é nova e tem vida boa, pois eu que tenho motivo de tristeza, tô te contando o momento de mais sofrimento que vivi, sorrindo feito criança que não sabe o significado das coisas. Se nós abaixá a cabeça pra todo problema que aparece, uma hora cairemos sem freio, de cara no chão. Nossa vida é díficil mesmo, os problemas nunca findam. Ela tem que ser mais forte.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Jornalismo ?

14 de maio de 2008, 01h41 da manhã. Sem sono e após um dia cheio de tédio e preguiça, resolvo tirar minha revista Caros Amigos de maio do plástico para ver uma matéria que veio com uma pequena ‘chamada’ na capa – CASO ISABELLA: A Imprensa não ouviu o outro lado – que chamou minha atenção.

A matéria escrita pelo jornalista Marcos Zibordi fala sobre um acontecimento, no mínimo interessante, que ocorreu na rua Domingos Simões, número 90, mesma rua da 89º DP, delegacia do Morumbi onde estavam naquele dia – 10 de abril – os, até então, suspeitos pelo assassinato da garota Isabella, Alexandre Nardoni, o pai e Anna Carolina Jatobá, a madrasta.

A entrevista fala sobre alguns crimes que ocorreram na mesma rua da delegacia, dando maior ênfase para um assalto a uma família que mora do outro lado da rua DP, exatos “50 passos”, segundo a matéria.

Um senhor de 67 foi abordado em frente ao portão enquanto ia por o lixo na rua, como é de costume nas quintas-feiras, por três ladrões que entraram com um Fiat Doblô na garagem da família, deixando mais duas pessoas como reféns, cada uma em um quarto e um cachorro preso no banheiro - este que permaneceu, segundo a família, “20 minutos latindo e ninguém se deu conta de algo errado poderia estar acontecendo”.

Os ladrões saquearam toda a casa, quando saíram levaram o controle-remoto do portão fugiram, após terem conseguido se soltar, a família desceu até a garagem quando olharam para o mesmo fechado, como se nada tivesse acontecido.

A matéria fala sobre o ‘pouco caso’ que as autoridades da delegacia fizeram sobre o assalto, onde chegaram até no momento da execução do B.O. levar a família para dar uma volta ao quarteirão para tentar identificar os suspeitos que tinham fugido de carro há mais de uma hora.

Além desse fato, Zibordi também informa que no período de 9 dias, que o casal permaneceu preso nessa delegacia, foram registrados 36 roubos só na redondezas da mesma, sendo um deles a uma repórter da Globo, quando estava a caminho para fazer cobertura jornalística do caso “Isabella”, e mais três casos de roubos ocorridos na casa do marceneiro José Alves Pereira que mora ao lado – separados por um terreno baldio - da delegacia 89º DP.

Bom, tinha planos de não fazer uma introdução tão grande, mas esse caso chamou tanto minha atenção que preferi dar maior importância para a matéria em si, do que para o que eu quero escrever sobre ela.

O fato mencionado nas linhas acima mostram uma das coisas que mais ficaram em minha cabeça durante esse ‘circo’ criado para o caso da morte da garota.

Com certeza fiquei comovido, porém acredito que a mídia transformou essa situação numa novela e que isso fez com que a policia, achando-se talvez o mocinho, fizesse muitas ‘dramatizações” para esclarecer o crime. Segundo informações que li nessa mesma matéria, só a Rede Globo levou 20 cinegrafistas, 18 repórteres e 8 produtores para frente do local onde estava preso o casal.

Ontem a noite vi uma matéria que falava de uma garota de 15 anos [se não me engano era isso mesmo], grávida de três meses que planejou e organizou uma ‘armadilha’ para seu próprio pai, que foi morto brutalmente em alguma cidade que não me recordo o nome.

Vi também no programa - o pior da atualidade, na minha opinião, mas que sempre paro para dar uma olhada – da Record, Balanço Geral, um caso de uma mulher que ficou 25 anos com uma tesoura presa dentro de seu próprio corpo, após o médico ter esquecido no parto de seu filho mais novo.

Além de outras, que estão sendo menos abordadas, como: os casos sobre os cartões coorporativos; o banquete que Lula e Dilma Roussef fizeram para comemorar o casamento da filha da ministra, convidando 600 pessoas com – segundo o Jornal Transição Socialista – suspeitas de que esse evento foi feito com o dinheiro público ou até mesmo para a afirmação do Presidente Lula que disse, quando referia-se ao aumento dos alimentos, que era uma “inflação boa”.

A imprensa, as pessoas e a policia, criaram um show que levarão até quando puderem sobre esse caso da menina, pois a sociedade fica alienada a isso e não se preocupa com situações que são realmente importantes pra elas – a sociedade.

Desculpe-me a morbidez, mas o que mudará em minha vida saber se foi mesmo o pai e a madrasta que mataram Isabella? Aliás, se fosse uma família pobre o casal já teria sido espancado, preso e até morto na prisão e o máximo que sairia na mídia seria algum trecho numa página policial de algum jornal. Porém os crimes ocorridos em bairros e por pessoas de classe média são divulgados com mais destaques na mídia, ou para mostrar que os pobres vem da periferia para roubar o rico trabalhador ou para tentar explicar porque uma pessoa de vida boa e estável cometeria algum crime, como no caso de Suzane von Hichthofen.

• O livro Mídia e Violência de Silvia Ramos e Anabela Paiva explica sobre essa postura para “coberturas de criminalidade e segurança no Brasil”.

Sonho em ser um jornalista, mas vendo todo esse folclore, essa ‘cena teatral’, em cima de um caso tão desgastante, me sinto um pouco desmotivado e triste, pois sei que, se essa postura não mudar e o jornalismo não voltar a ser sério como pessoas que admiro faziam - Truman Capote, Carl Bernstein, Bob Woodward e até mesmo Caco Barcellos quando escreveu sobre a “policia que mata” –, terei que optar em ser mais um apresentador de notícias alienantes ou um motorista de táxi, quem sabe...

Enfim... essas dúvidas permanecerão até que eu desista do jornalismo*, ou que “amadureça” um pouco mais e entenda que é assim mesmo e pronto.

Vivo cheio de dúvidas...

Mas existe uma coisa que eu tenho certeza, por enquanto, que é de que não foi eu que joguei a menina daquele prédio...

Desculpe o trocadilho de palavras com um fato tão triste, mas não poderia terminar de outra maneira. Quem me conhece sabe disso...

*Não desistirei de ser um jornalista, mas precisava de um pouco de sensacionalismo em meu texto, rs.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Falso Moralismo

No último dia 6 de maio, em diversos países do mundo, ocorreram as marchas em prol da discussão para pleitear a legalização da maconha.

No Brasil, alguns que são a favor do uso da erva se organizaram e decidiram participar também do evento.

Confesso não ter acompanhado muitas matérias sobre o andamento desse ato, porém, devido ao assunto ter sido muito abordado pela maioria dos veículos de comunicação, não foi díficil saber que na maioria dos estados a marcha foi vetada.

Ontem, assisti o programa Debate MTV, apresentado por Lobão, onde a pauta de discussão era a questão sobre a proibição do protesto pelas autoridades brasileiras. O tema do programa era: "O uso da maconha no Brasil: discutir ou oprimir?"

Apesar de me irritar bastante com o apresentador que em nenhum momento foi imparcial, atacando claramente o 'lado' de quem era contra a marcha e a favor da proibição de qualquer manifestação com esse intuito, acompanhei o andamento do programa onde ocorreu uma discussão super interessante sobre essa questão.

No programa estavam, a favor da marcha, um dos organizadores da marcha o sociólogo Renato Cinco, uma estudante e um advogado, no lado oposto estavam um ex-major da PM (se não me engano) e atual deputado do Partido Verde (PV), um psicólogo e um ex-dependente químico que hoje em dia ajuda pessoas que desejam parar de consumir drogas.

Foram usados muitos argumentos em ambos os lados, mas não vou ficar descrevendo a discussão, pois essa não é minha idéia principal para esse post.

A questão de eu ter pensado em escrever sobre isso é para expor minha opinião e, se possível, ver qual é a opinião de você que esteve por aqui e teve a pasciência de ler, rs.

Não sou a favor da legalização, acho que seria uma atitude muito arriscada para o país e que poderia até abrir portas para que o consumo de outras drogas sejam alavancadas pela questão da liberação da maconha, penso dessa maneira devido a um comentário do psicólogo que foi ao debate, onde explicou que é comprovado que algumas pessoas, na maioria jovens, usam a maconha por ser algo proibido, como uma espécie de tentativa de posicionamento em alguma tribo ou esfera de amigos, "para se mostrar melhor". A legazação poderia trazer os jovens, principalmente, a consumir mais cocaína, por exemplo, que é uma droga que pode ser considerada mais perigosa.

Apesar disso, o outro lado da mesa levantou uma questão, também, interessantíssima. Sergundo eles, "não se tem notícias de que a maconha tenha causado algum acidente ou gerado atos violentos em seus usuários, por sua vez o álcool é pivô de muitos problemas na sociedade, pois causa acidentes de trânsito, deixa as pessoas com atitudes mais agressivas e é um dos fatores que contribuem para a desestabilização de algumas famílias".

O ex-major disse ser completamente contra a marcha, pois "era uma apologia ao crime, a morte e as drogas", já o organizador da marcha retrucou dizendo "que estava expresso nas leis que os cidadãos tem o direito de expressão e de discutir a mudança de algumas leis vigentes no país". O deputado do PV concordou, porém disse "que nesse caso não pode haver permissões para essas marchas, pois estariam contribuindo com os traficantes, que financiam esses atos para continuar destruindo lares... Pois as pessoas não imaginam quantas crianças morrem devido ao tráfico de drogas" e etc.

Lobão, o ótimo músico e péssimo apresentador (na minha opinião imparcial, [risos!]), retrucou -o com uma questão também interessante para ser comentada, pois na opinião dele "os traficantes não apoiam a marcha, pois se a maconha for legalizada, seu mercado perderá muito, pois as pessoas não os procurarão mais, comprarão em bancas de jornais e tabacarias".

Resumindo tudo...

Sou contra a legalização, pois acredito que isso não diminuirá a ação dos traficantes, pois os mesmos não vivem só de vender maconha, e da mesma maneira que o psicólogo afirmou, com a maconha liberada o uso de outras drogas ilícitas aumentará, porém fiquei indignado com a proibição da marcha, pois é uma atitude democrática onde as pessoas tem o direito de promovê-la.

Marchar a favor da legalização da maconha não pode, porque usar drogas e fazer apologias ao consumo delas é crime, ok.

Os manisfestantes juravam não estar fazendo apologia e sim alegavam estar pedindo a discussão do assunto, revisão das leis, pois a erva pode ser usada como remédio, por exemplo.
Apesar de duvidar um pouco de que só estavam pedindo a revisão da lei e não fazendo apologia ao uso, ok também.

Matar é crime?

Sim...

Então porque liberaram manifestações que são a favor do aborto no dia 28/05/2007 ás 16h00 em frente a Praça Ramos de Azevedo, no centro de São Paulo?

O álcool e o cigarro são os um dos principais causadores de dependência no Brasil e até de morte. Ok e daí?

Porque não proibir o consumo de álcool e cigarro ou invés de legalizar a maconha, se todos são considerados drogas e que as pesquisas indicam os dois primeiros (cigarro e álcool) como maléfico na maioria dos casos?

Não, magina...

A maconha, trás dependência...

Tá o álcool não... meu avô teve três derrames e faleceu porque o destino queria assim mesmo, não foi porque bebia mais que uma garrafa de pinga por dia. Não era viciado, bebia socialmente.

O cigarro também não... estou desempregado, fudido sem dinheiro, mas nunca sem cigarro, por quê?
Há... sei lá... porque é baratinho... Não é! Mentira!

Não sou a favor e nem contra o aborto, acho que depende muito da situação, mas sou a favor das manifestações, pois "vivemos em um país democrático" (Olha que frase bonita!).

Porque os maconheiros e simpatizantes não podem marchar a favor da "discussão da lei que proibe o uso da erva Cannabis"?

Usar drogas é crime... matar também...

E não estou dizendo que é só o aborto que mata...





FALSO MORALISMO!


Já diria Tom Zé: "Somos mais uns sobreviventes dessa politimerdia".

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Uma interpretação da Virada Cultural...

A partir das 18h00m do dia 26 até as 18h00m do dia 27, a cidade de São Paulo, viveu a esperada Virada Cultural.

Ninguém conseguia imaginar ao certo como seria o desenvolvimento do evento em 2008, já que no ano anterior a festa ficou marcada pela violência e vandalismo do público e da polícia no show do grupo de rap Racionais Mc's.

Ao contrário de 2007, o evento não foi tão divulgado pela mídia, trazendo chamadas em poucos dias antes do acontecimento.

O sistema de segurança mostrou-se mais amadurecido e bem preparado para alguma situação de emergência no decorrer das 24 horas de shows gratuitos para pessoas de todos os tipos.

Os palcos foram mudados de lugar, tornando os locais das atrações aparentemente mais distantes, tentando, quem sabe, diminuir as aglomerações e tumultos.

Não foram publicadas muitas notícias, ou notas, sobre acontecimentos negativos na Virada Cultural do ano em que se segue, talvez para tentar trazer de volta a credibilidade e aceitação do público para o evento, ou porque realmente não ocorreram muitos acontecimentos ruins.

Deixando de lado as expectativas de público e/ou violência, a "Virada" foi marcada pela miscigenação das tribos existentes na cidade em que ocorreu.

Era possível notar, em pequenas caminhadas pelo Vale do Anhangabaú até a Praça da Patriarca por exemplo, pessoas com estilos, gostos, pensamentos e maneiras de se vestir diferentes. Mais interessante do que isso, era perceber que, na maioria das situações, essas tribos mostravam-se respeito umas com as outras, trazendo um clima positivo a quem andava pelas ruas mal cheirosas, porém lindas, do velho centro da cidade. Uma espécie de pintura, ou uma combinação perfeita, era cruzar em frente as escadarias do Teatro Municipal, com sua iluminação amarelada, e ver um rapaz gay totalmente louco de "bala" vindo da Rave do Largo São Bento, andando ao lado de um punk ou de um daqueles caras com cara de folgado, preconceituoso, com uma camisa listrada, uma calça jeans, um tênis de molas e um boné escrito alguma frase de efeito da periferia do tipo: "1 da Sul - Capão Redondo" ou "Aliados Fortes".

Essa mistura ainda era mais nitida se tomarmos como parametrô o show do grupo teatro-musical, que é, por enquanto, pouco abordado pela mídia, porém muito conhecido por muitos jovens da atualidade através de um marketing viral - boca a boca - extremamente eficaz, O Teatro Mágico.

Com um estilo fora do comum em bandas musicais no Brasil do século XXI, lembrando, talvez alguns artistas como Ney Matogrosso ou mesmo sua ex-banda os "Secos e Molhados", o TM, como é conhecido possui um charme e uma carisma inquestionável.

Os integrantes do grupo sempre aparecem com seus rostos pintados e fantasiados como artistas do mundo circense, enquanto tocam as músicas, também como artistas de circo, fazem com que o palco se torne algo mais encantador aos olhos de quem está lá para vê-los.

Suas músicas não permitem que tentemos determinar qual é o ritmo ou o estilo que o grupo produz em cena, existe uma mistura de rock, de forró, maracatu, dentre outros segmentos músicais que costumam fazer sucesso atualmente.


Video produzido por um cinegrafista amador no show da banda O Teatro Mágico, que fez um "pout pourri" com as músicas Camarada D'Água (autoria do grupo) e Chover (ou invocação para um dia líquido) da banda Cordel do Fogo Encantado.

Possuem uma postura que, também, os difere da maioria de outras bandas. Com muitos artistas tentando arrumar mil soluções para vencer a pirataria, o grupo O Teatro Mágico anuncia nos intervalos de suas músicas que em breve o novo álbum estará a disposição gratuitamente na internet para todos, deixando transparecer que não se preocupam em ganhar menos dinheiro com vendagens de cd's, pois preferem que todos ouçam suas músicas e os conheçam por isso.

Talvez esses motivos, de indefinição de estilo ou pelo discursso "músico-comunista", tornaram possível ver tantas pessoas com perfis diferentes tão próximas umas das outras e pelo mesmo motivo.

Andando pela multidão que chegou cedo para assisti-los não era dificil se deparar com um grupo de regueirros com seus dreads balançando enquanto curtiam o som e fumavam maconha, sentindo-se os próprios "bob marleys", ou então com roqueiros com um estilo mais sério detonando suas garrafas de vinho; surfistas, skatistas, emos, crianças de todas as idades com seus rostinhos enfeitados com narizes de palhaços, além de outros muitos "tipos" de pessoas diferentes em perfeita harmonia, cantando como hino as músicas poéticas da banda.

Por todo canto era possível se encantar com as apresentações. Ás vezes, mesmo sem esperar, as pessoas eram surpreendidas por artistas de circo como um rapaz de pernas-de-pau, com seus movimentos parecidos com os de um pássaro, que desceu de rapél do alto de um prédio que tinha mais que uns 10 andares ou até mesmo por artistas independentes, anônimos, que não estavam na programação, passar andando pelas ruas tocando suas alfaias e produzindo um maracatu ecoante e muito vivo, deixando qualquer um que passava por eles com um ar de curiosidade e euforia, deixando escapar uns sorrisos e arriscando uns passos.

Contando com mais que 4 milhões de pessoas, a Virada Cultural trouxe um momento mágico aos paulistanos e aos não-paulistanos que foram ao centro 'curtir' os artistas que mais agradavam seus gostos artisticos e culturais.
Encerrando as 24 horas de diversão, sem deixar a grandiosidade de lado, podendo ser visto como uma das principais apresentações do evento em 2008, se não foi a principal, o cantor Jorge Ben Jor na tarde do dia 27 de abril deixou com certeza na memória, de quem estava lá, gravado alguma imagem, situação e/ou acontecimento, dando uma interpretação única para cada um dos milhões de adultos, crianças, idosos, homens, mulheres, gays, lésbicas, entre outros.

Essa foi a minha...

E fiz questão de compartilha-lá com você.


Por Silvio de Assis

sexta-feira, 18 de abril de 2008

"O curupira já têm seu tênis importado..."

Caio de Assis, 3 anos e 11 meses, está em seu quarto, deitadinho na cama do "Homem Aranha", assistindo, na televisão do "Relâmpago McQueen", seu super herói jogar a teia, dar porradas e beijar sua namorada em meio de tantas confusões para salvar o mundo contra o "Duende Verde".

Silvio de Assis, 21 anos e 2 meses, chega em casa, apaga a luz do quintal, guarda as chaves no "porta-chaves" em baixo da escada, vai até a cozinha, abre geladeira, toma um copo de suco e sobe para dar um beijo em seu irmãozinho que está trancado no quarto, deitado, assistindo um filme, como de costume.

Guarda sua mochila em seu quarto, passa no banheiro para lavar as mãos, pois as mesmas estão com um cheiro de cigarro muito forte e não gosta de mostrar ao seu pequeno irmão, que é um fumante, pois tem medo que o mesmo se torne um fumante através de suas influências.

- Oi Caio, tudo bom?

- Tudo bom...

- Vem me dar um abraço?

- Não, "Sivio", sai da frente!

- Tá bom... tá bom... não precisa fazer manhã, seu chorão...

- Não sou chorão....

- É sim...

- Não sou... vai brincar com seu "putador" (computador)....

- Então me dá um beijo...

- Tá bom...

Silvio ganhou um beijo e um abraço, e aproveitando a oportunidade quis continuar a conversa com seu irmãozinho, que agora não estava mais tão concentrado no filme que já sabia de "trás pra frente", pois estava mais preocupado em tirar os óculos do rosto do irmão mais velho.

- Foi pra escola hoje, Caio?

- Não...

- Foi sim, que eu sei, o que você fez lá hoje?

- Não sei...

- Você desenhou muito?

- Não sei...

- Cantou muito?

- Não sei...

- Não sabe? Sabe sim... qual musiquinha você sabe cantar?

- Não sei...

Percebendo que não conseguiria conversar com o pequenino, Silvio, desisti e vai para o seu quarto, pois está com fome e pretende trocar de roupa para depois descer à cozinha para comer alguma coisa.

Enquanto trocava de roupa, a pequena mão bateu na porta, Silvio já sabia de quem eram aquelas batidas desrritimadas e abre a porta para o mundo pouco explorado pelo pequeno, pois não tem muito acesso ao quarto de seu irmão, dessa forma, quando consegue entrar fica por poucos minutos olhando tudo que consegue ver ao seu redor, até escolher sua "vítima".

Dessa vez o objeto escolhido foi aquele que ele já conhece muito bem, melhor que muitos adultos por aí. Já sabe mexer como se, no momento em que fica frente a frente com um "negócio" desses, perdesse toda aquela inocência e falta de coordenação motora.

- "Sivio", esse "putador" é meu?

- Não... esse ai é meu...

- Não! Esse "putador" é do papai!

- Não, pequeno, esse é meu (risos).

- "Sivio", meu papai vai comprar um "putador" pra mim na loja.

- Há é?! E pra que você quer um computador, doutor?

- Porque eu vou "tabiar" (trabalhar) no meu "putador", ué.

- Mas você é muito pequeno para "tabiar" ainda, gatão (risos).

- Não sou! Já sou "gande" e meu papai vai comprar um "putador" na loja, "pá" mim!

Essa conversa durou mais alguns minutos, Silvio ria enquanto ouvia Caio divagar sobre seu futuro computador, e ao mesmo tempo pensava que há pouco tempo havia tentando conversar com o pequenino sobre um assunto que considerava do interesse do mesmo, mas que não havia conseguido chegar a lugar nenhum.

Falar sobre as musiquinhas da escola era um assunto ultrapassado, pois pra que cantar musiquinhas se no "putador" do papai podemos escutar qualquer música que quisermos? (Sim...Caio já sabe colocar, tirar, trocar, pausar, dar play... ouvir qualquer cd.)

Porque desenhar no papel, se podemos desenhar no "putador"?

No "putador", assistimos o "Relâmpago McQueen", o "Homem Aranha", o "Nemo"...


Há o computador!

O mocinho de nossas vidas, o facilitador e "otimizitador" de tempo...

Mas será que ele... o "putador"... não está roubando uma das coisas mais importantes para a infância das crianças de hoje?

A inocência...

Cantar músiquinhas, fazer desenhos, brincar com tinta, brinquedos, gostar de histórinhas sobre nosso folclore, é coisa fora de moda.

Cuidado com a Cuca?

Derrrr... Ela não existe, papai!

Saci pererê?

Hahaha, pára né?!

Curupira, mula sem cabeça, caipora?

Tá.... e eu sou o Bozo!

Para de lorota, e me dá um "putador"! Pois quero assistir o "Homem Aranha", ele sim existe...
Existe, bate no ladrão e beija na boca da "namolada" (Híhíhí!).



Bom... vivendo com esse "pedacinho de gente" ouço tanta coisa.

E acima de tudo aprendo muita coisa, é incrível ver seu desenvolvimento e como fala uma coisa nova a cada dia.

Porém, também é preocupante, pois ele conversa como uma criança mais velha e não se interessa por "coisas" que consideramos ideais para a idade dele.

Enfim, acho que essas observações não são só minhas, pois é normal participar de discussões que abordam esse assunto.

Esse desenvolvimento precoce é bom ou ruim?

Se considerarmos ruim, existe uma solução?


Bom... já dei uns tragos, pensei em algumas coisas e compartilhei com você.

Faça o mesmo!

Seja bem vindo... dê umas tragadas, pense um pouquinho e, se o assunto for de seu interesse, compartilhe também.


Para ajudar em seus pensamentos, aconselho que escute uma música que me faz pensar muito nesse tópico.

Escute "Enquanto o mundo explode", que seria uns dos nomes que eu daria para esse blog, porém infelizmente já existe um com esse nome, do Nação Zumbi, o título do Cd é "Afrociberdelia".

Segue, também, a letra da música:

A engenharia cai sobre as pedras
Um curupira já têm seu tênis importado
Não conseguimos acompanhar o motor da história
Mas somos batizados pelo batuque e apreciamos a agricultura celeste
Mas enquanto o mundo explode
Nós dormimos no silêncio do bairro
Fechando os olhos e mordendo os lábios
Sinto vontade de fazer muita coisa...



Por Silvio de Assis

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Apresentação

Acompanhando os acontecimentos do dia a dia, e parando para refletir, surgem pensamentos...

Pensamentos que nos deixam em uma linha tênue entre o real e o abstrato, o bem e o mal e entre o são e o louco...

Tragando meu cigarro, pensando nessas coisas, decidi compartilhar, neste blog, meus devaneios sobre algumas coisas chamam, ou não, minha atenção com quem esteja, ou não, interessado em saber e até mesmo discutir meus posts.

Venha! Sinta-se a vontade... Dê uns tragos, pense e compartilhe também!

Não fuma?

Então dê um trago num cafézinho, um leite, uma cachaça, uma cerveja... num copo d'água, que seja...

Não quer tragar?

Então pense...

Faça o que achar melhor, mas pense... pense e compartilhe....



Até a próxima postagem com algum conteúdo menos vazio, prometo...rs...