quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Recebi algumas observações sobre meus posts. Por ser um blog, sugeriram que procurasse postar textos mais curtos e dinâmicos para não tornar a leitura cansativa e para que não me perdesse na idéia que quisesse transmitir neles.
Concordei com a crítica construtiva e decidi escrever textos menores. Porém, hoje, dia 29, aconteceram situações interessantes - para mim - e gostaria de dividi-las. Com isso, esse post será mais um daqueles enormes.
Para tentar não fazê-lo cansativo, dividirei em tópicos, assim poderás lê-lo em partes. Sugiro que leia cada dia uma parte - se preferir - pois como sabe o intervalo entre uma postagem e outra tem sido longo.

***

"Casa de ferreiro, espeto de pau"

Aconteceu hoje, no Sesc Pinheiros, a 1ª Conferência Internacional do FIB (Felicidade Interna Bruta). Após o término da segunda palestra, um dos responsáveis pelo setor de "programações" da unidade Pinheiros saiu da pláteia do Teatro e veio em direção a nós, auxiliares de atividades de apoio 2 (?) que estávamos sentados em um dos bancos do Foyer.
- Porra, tem um palestrante viajando na maionese lá no palco...
- Porque?
- O cara está falando que para ajudar no índice de felicidade de cada um, o ideal é que trabalhássemos apenas seis horas por dia.
- E porque está viajando? Na minha opinião é o correto...
- Como isso? É muito pouco... Imagine, nós servidores do Sesc trabalhando só isso. Impossível.
- Vi outro dia na Biblioteca uma publicação SESC do Le Corbusier e ele defende esse tempo de trabalho como sendo o ideal para o desenvolvimento social. Já que as outras ou três horas, trabalhamos como "mais valia" para os nossos patrões.
- Publicação SESC? Tem certeza?
- Absoluta. Veja na Sala de Leitura. Não sei se o livro se trata disso, mas sei que esse cara defende essa tese. Aliás, muitos caras escrevem sobre isso. Eles dividem o tempo do dia e para que possamos ter um tempo mínimo de, se não me engano, quatro ou seis horas de tempo ócio criativo, o ideal seria que trabalhássemos seis horas, já que temos que dormir oito horas e permanecemos aproximadamente umas quatro horas por dia nos locomovendo de nossas residências até o trabalho ou até a escola.
- Nossa, não sabia que existia isso.
- Existe. Aliás, outras publicações SESC sobre Ciências Socias falam sobre esse assunto, mas é normal achar estranho, eu também achei quando vi. Se você parar para pensar é fácil perceber que nós oferecemos o ócio criativo o tempo inteiro para as pessoas. Essa é uma filosofia do Sesc. Oferecemos o desenvolvimento intelectual, o desenvolvimento da saúde e bem estar, o do lazer e etc...
- Verdade... e nós trabalhamos até doze horas por dia dependendo da ocasião para proporcionar isso aos comerciários.
- Exatamente. Casa de ferreiro, espeto de pau.

***

"- É a auto-destruição do Capitalismo."

De pé, ao lado da porta "Platéia Ímpar" para que ninguém entrasse antes da abertura da platéia para o público vem em minha direção uma senhora loira, muito elegante, extremamente maquiada, com bótox e silicone acompanhando um garoto caderante:
- Olá, boa tarde, eu preciso acomodar meu filho na cadeira e para não atrapalhar o fluxo das pessoas, você deixa eu entrar com ele um pouco antes?
- Sim senhora, assim que eu for autorizado a abrir a porta aviso um pouco antes para entrar primeiro com ele, tudo bem?
- Tudo bem, obrigado.
- Aliás, o ingresso de vocês está ai? Posso vê-lo?
- Pode sim, mas por quê?
- Para ver se a senhora está na fileira A ou na fileira S.
- Não, mas ele é caderante, na fileira A vai atrapalhar, não vai?
- Não senhora. A fileira A e a S tem espaços para caderante. Preciso ver o ingresso, pois se for "A" encaminharei a senhora por elevador, ai desceriámos ao lado do palco pois aqui por cima não dá, tem as escadas da platéia.
- Entendi... Então queremos ficar na primeira fileira, por onde eu vou?
- Eu preciso ver o ingresso, pois se chegarmos lá e os ingressos da "A" estiverem vendidos a senhora terá que voltar aqui para cima. Para não ficar indo de lá para cá, sugiro que confirmemos antes de descer. Posso?
- Olha... sou a Presidente da Associação (ou fábrica, não lembro) de Brinquedos Interativos e, além disso, fui convidada da produção da Conferência e quero ficar lá em baixo.
- Senhora, infelizmente preciso confirmar a fileira.
- Olha aqui garoto, não vou mais discutir com você. Chame alguém da organização do Teatro agora. Se vai encher lá em baixo ou não é um problema de vocês. Não tenho nada a ver com isso. Quero ficar lá e pronto.
- Sim senhora, só um minuto.

Chamei um dos responsáveis pelo setor de "programações" do teatro. Ele veio, ficou por longos minutos conversando com ela. Os dois com a fisionomia séria e com os rostos avermelhados. Ele saiu. Voltou uma auxiliar de atividades de apoio 2 (como eu), conversa com ela e a conduz ao elevador que dá acesso a primeira fileira. Logo, ela ficará na fileira "A".

Depois que já havia começado o evento ele veio até onde eu estava e comentou que ela era extremamente grossa.

Passou o dia inteiro até que acabou o evento. Lembrei que ela estava lá em baixo com o garoto e fui encontrá-los para conduzi-los ao elevador novamente.

Quando cheguei o garoto estava extremamente feliz e falante:

- Nossa, essa americana me surpreendeu. É a primeira fez que vejo um norte americano assumir que os Estados Unidos estão destruindo a vida das pessoas do mundo inteiro.
- É verdade, também me surpreendi quando ela pediu desculpa e reconheceu que o capitalismo e o neoliberalismo desenfreado nos EUA vem destruindo o planeta.

Comentamos por mais alguns minutos e perguntei:

- A senhora quer ir para o estacionamento ou para a rua?
- Quero um táxi grande, você me ajuda?
- Sim senhora. Me acompanhem por gentileza.

Peguei a cadeira de rodas do garoto e fui conduzindo-o e conversando com ele sobre as palestras. A senhora começou a participar conosco e começamos um assunto super interessante sobre o FIB, Capitalismo e sobre "quanto mais temos, mais queremos".

Enfim, pedimos o táxi e enquanto o mesmo não chegava ficamos, os três conversando de igual para igual sobre esses assuntos. Ela me deu umas dicas de sites e agradeceu pela atencão. Eu agradeci pela conversa e pedi desculpa pelo mau entendido. O garoto saiu extremamente sorridente e disse que trabalhava com brinquedos. Era ele quem aprovava ou não os brinquedos da fábrica (ou associação) de sua mãe.

Ela perguntou meu nome, me chamou pelo nome e apertou minha mão.

***

"Quem vê cara, não vê coração."

Dia 29. Dia díficil, cansativo. 29, número importantíssimo, faz refletir e sentir saudade. Fiquei o dia inteiro pensando no número 29, dia 29. O dia inteiro também, fiquei de pé no foyer do Teatro acompanhando a 1ª Conferência Internacional do FIB (Felicidade Interna Bruta) e isso acabou comigo (fisicamente). Lá - no foyer - o celular não tem sinal e os telefones não fazem ligações externas e isso acabou comigo (psicológicamente).

Trem lotado, metrô lotado e onibus lotado.

Estava de pé, segurando-me para não cair no onibus da linha 001 Itapecerica da Serra - Parque Paraíso. Fiquei ao lado de um banco solitário (individual) perto da porta de saída do veículo bem atrás de um banco duplo onde estavam duas mulheres, ambas lendo um livro. A da direita, o lado do corredor, estava com uma touca de lã azul e branca, um visual meio hippie, meio reggae com um óculo marrom de armação grossa, saia longa, sandália e uma blusa também de lá (ou crochê). A esquerda, o lado da janela, estava um mulher loira do cabelo bem liso e brilhante, alta, com os olhos azuís-esverdeados (?), vestida com uma roupa social, calça preta, camisa branca, blaser preto, sapato modelo chanel de bico e salto fino também na cor preta.

Entrou no onibus um rapaz de bermuda jeans, chinelo Havaianas, camiseta amarela - suja - parecida com a da Seleção Brasileira, porém o escudo era da "Semana do Meio Ambiente 2008", cabelo amarrado ligeiramente longo (até o ombro) e com uma cesta, daquelas que usamos em supermercados quando vamos comprar poucas coisas, com umas balas dentro.

As moças estavam lendo seus livros. O rapaz colocou a cesta no suporte de pescoço do banco a frente do que elas estavam e o onibus seguiu viajem até que ele disse para a que estava no corredor:

- Moça, posso por a cestinha em baixo do seu banco?
- Pode sim, lógico. E se afastou para ajudá-lo.

A garota da janelo interrompeu sua leitura e disse:

- Ai moço, desculpe, achamos que você ia vender por isso não pedimos para segurar.
- Não, acabei por hoje, vou para a casa agora.
- Desculpe mesmo, seguraria para você.
- Tudo bem, já conseguimos colocar aqui em baixo e não vai atrapalhar ninguém.

Alguns minutos de silêncio e o rapaz volta a falar:

- Que livro estão lendo?

A do corredor mostra seu livro. Um romance, tinha amor no Título. Antes da outra falar, ele diz:

- Legal, estou lendo "O pequeno príncipe". Mas o do Maquiável, não o outro. (Não sabia que existem dois e nem sei se ele estava certo disso, ou até se ouvi certo o que falou).

A moça da janela disse:

- Estou lendo esse aqui. (Direito Civil por Silvio de alguma coisa...)
- Há sim... você que faz direito, já leu Maquiável?
- Já sim.
- Eu na verdade não gosto muito dele.
- Não? Por quê?
- Não tenho certeza para quem que ele escreveu sabe?
- Sim... eu também não gosto muito dele...

... e começaram um assunto interessantíssimo sobre Maquiável, Platão, Freud e Platão, ela falou sobre o seminário que teria que apresentar sobre o livro do tal Silvio que estava lendo, mas que estava achando muito chato e que era contra algumas leis...

A moça percebendo que o rapaz era inteligente com as citações dos livros tentou aprofundar o assunto para o direito e ele completou:

- Não posso comentar sobre isso. Sou leigo na área do direito. Li Maquiável porque jogo xadrez. Quem joga xadrez tem que ler Maquiável. Ele era um estrategista, né?!
- É verdade... "O fim justifica os meios"...
- Um amigo me disse que essa frase não é dele. Disse que foi dada a ele, mas que ele realmente nunca a disse...

... e continuaram o assunto. Interessantíssimo.

Acabou o assunto, pensei, ficaram quietos. Passados uns minutos:

- O que você acha sobre o suicídio? É um direito do cidadão, porque o estado é contra?

... e voltaram falando sobre se o suicídio pode ser considerado um crime a liberdade e a integridade fisica de cada um ou não.

A conversa tirou todos os pensamentos de minha cabeça. Esqueci dia 29, esqueci dores no joelhos, nos pés e nas costas. Aliás, chegou o meu ponto. Desci feliz, pensando nos dois... Naquela imagem diferente, uma garota linda, arrumada, universitária, conversando com um rapaz cheio de cicatrizes, feio, mal vestido, vendedor de bala em onibus, jogador de xadres, filósofo e suicída...

...estava chovendo muito forte.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Mostra Sesc de Artes 08 - 08/10 à 18/10


Arte Contemporânea

"A arte pode ser RUIM, BOA ou INDIFERENTE, mas QUALQUER que seja o adjetivo empregado, temos que chamá-la arte. A arte RUIM é arte, do mesmo modo como uma emoção RUIM é uma EMOÇÃO."
Marcel Duchamp, escultor francês

Percepção (da arte)

"Nenhuma experiência HUMANA se limita a um dos cinco sentidos. Os SENTIDOS se decifram uns aos outos."
Maurice Merleau-Ponty, filósofo francês

Contemplação (da arte)

"A arte é a CONTEMPLAÇÃO: é o prazer do espírito que PENETRA a natureza e descobre que ela também tem uma ALMA. É a missão mais sublime do homem, pois é o exercício do PENSAMENTO que busca compreender o UNIVERSO, e fazer com que os outros o compreendam."
Augusto Rodin, escultor francês


Deslocamento (à arte)

"(...) mude de CAMINHO, ande por outras ruas, calmamente, OBSERVANDO com atenção os lugares por onde você passa. (...) Veja o mundo de outras PERSPECTIVAS. (...) Não faça do hábito um estilo de vida. Ame a novidade. (...) TENTE O NOVO TODO DIA: o novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor, a nova vida. (...) EXPERIMENTE COISAS NOVAS. TROQUE NOVAMENTE. MUDE, DE NOVO. Experimente outras vez. (...) o mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. SÓ O QUE ESTÁ MORTO NÃO MUDA! (...)"
Edson Marques, poeta brasileiro

Arte é conhecimento

É claro que o HOMEM quer ser mais do que ele mesmo. Quer ser um homem total. Não lhe basta ser um INDIVÍDUO separado; além da PARCIALIDADE da sua vida individual, anseia uma "plenitude" que SENTE e tenta alcançar (...) que sente e tenta alcançar quando busca um mundo mais COMPREENSÍVEL e mais justo, um mundo que tenha SIGNIFICAÇÃO."
Ernst Fischer, escritor austríaco



Veja a programação no site www.mostrasescdeartes.com.br/blog/.

Vale a pena!