quarta-feira, 29 de abril de 2009

"Por purificação..."

Ari passou dias distante dos afazeres da grande cidade. Dedicou-se totalmente ao cuidado de suas terras. Experimentou algumas plantações. Queria saber o que nasceria por aqueles lados, pretendia cultivar.

Cansou e voltou para a vida turbulenta das buzinas e fumaças. Na biblioteca de Babel conheceu novos exemplares sobre pensamentos emergidos e sublimados durante o cuidado com adubos, pegou-os, colou-os debaixo do braço e procurou uma boa sombra para iniciar o exercício de leitura.

Encontrou e ficou ali, "meio deitado-meio sentado", entre a grande raiz imponente que saltava o chão mas não perdia a firmeza e a personalidade, com os livros no colo, protegendo-se dos raios solares que poderiam atrapalha-lo, durante horas. A leitura o envolvia.

Levantou-se, saiu do processo cartático e sorriu... O cheiro da árvore era bem agradável.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

A loquaz companhia tentava fazê-lo entender. Já não era possível, pois seu universo não estava interligado ao solilóquio que seguia sobre o quão positivo poderia ser, para o ponto de vista cultural e político, o acontecimento do grande evento esportivo que chegaria em breve à sua cidade.

Um discursso inadequado saltou de sua falante menos culta pedindo para que se calasse. Não aguentava mais que seus devaneios fossem interrompidos por algo sem contexto ao horizonte que a mente alcançou.

Prefereiu não dividir, não tinha motivos para fazê-lo.
Levemente arrependido de sua postura pouco cortês à alguém que tentava distraí-lo, tratou de buscar um assunto com a intenção de não ser questionado sobre sua distância. - "Já ouviu falar de Norman Rockwell? Vi uma de suas obras que me disse algo sobre como nos enxergamos, alegando que não existe um eu "Eu", mas visões de "Eu" que são mutáveis dependendo de como o notamos". Algo que saiu de súbito, sem muito embasamento e reflexão, precisava iniciar...

O intelectual, com um sorriso agradável, confirmou seu conhecimento sobre autor e obra e iniciou um novo discursso e nem se deu conta que o outro já não participava mais do diálogo e tinha retornado ao seu mundo. Ao seu Eu.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Abraçou e perguntou: "Gostou, meu jovem?"

Empurrar a pedra até o cume é foda.
Ver ela descendo é mais foda ainda.

Pelo menos para mim é assim.

A montanha onde empurro minha pedra, as vezes, me proporciona momentos mais valiosos do que o salário do fim do mês pode comprar.

Na última semana pude acompanhar o show do último cd do Tom Zé (Estudando a Bossa Nova).
Sem comentários... não é só música, é uma aula de irreverência e, principalmente, conhecimento.

Uns dos melhores shows que já assisti. Nem lembrei que estava a trabalho.

Uns acham-o um louco, lunático. Talvez seja. Mas na sua loucura, trás visões tão lúcidas sobre o assunto que trata.

Para mim, um gênio em atividade.

Na companhia das mães

Cheguei na minha mãe hoje e o som, como de costume, estava ligado. Porém, não era o de sempre - mpb, forró, sertanejo e/ou samba - que embalava a tarde lá na casa dela. Do rádio saia uma voz calma e triste.

Enquanto falava com ela e com minha avó, notei que se tratava de música "gospel".

Era um Cd do Padre - galã - Fábio de Melo, me explicaram.

Músicas que lembravam "tristeza", mas todas muito bonitas. Nada de extremamente religioso, um som tranquilizador que não trás aquela sensação de "há, música gospel"... ficamos escutando juntos e algumas partes chamaram atenção.

Resolvi compartilhar uma.

Tem calma

"Tem calma na vida o jogo é de verdade
Pra ganhar a partida vai com força e coragem
São as regras do jogo é bom sempre lembrar
Diante dos desafios é preciso tentar."

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Solilóquio aquoso!

Dia cheio.
Dorme tarde e acorda cedo.

Sai correndo, dislexo.
Cadê o centro?
Concetra.

Deu certo.
Aproveite!

Ociosidade...
Uns tragos.
Saber viver...
Uns pensamentos.

A irreverência.
A melodia.
O conhecimento.
Que momento mágico.
Oficio?
Não, nesse instante não.
Arrepio,
Passou tão rápido!
Palmas!

Dismitificação.
Inesquecível!

Abrigo.
Inesperado...
Saudosismo...
Cansaço.

Sono?
Não...

Cadê meu vinho?
Meu cigarro?

Uns tragos e uns pensamentos...

Grande merda.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Che

Assisti.

Assistam!

Muito bom!

Não é um romance. Quem gosta de Ernesto, com certeza vai gostar do filme!


"Não ficamos apenas dando tiros. Nós aprendemos com a Revolução. Os que não sabem ler e escrever são mais fáceis de enganar..." (Não é ipsis literis porque não lembro muito bem, mas acho que assim não muda o contexto.)

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Ponto de vista.

Fumou o último cigarro, olhando para fora. Lembrando de quão cansativo foi seu dia. Tragava lentamente, sentindo a nicotina entrar em seus vasos sanguíneos. Durante o dia fumar não é a mesma coisa, é muito rápido. O último é mais saboroso...

Apagou-o em seu cinzeiro improvisado, foi até o banheiro, escovou os dentes e preparou-se para dormir. Já deitada, pensava rapidamente sobre o que teria que ser feito no dia seguinte e tentava esquecer, aos menos que por instantes, o que foi feito no que se passou.

Deitada, sentia as pernas doloridas e um imenso cansaço, não é fácil atender seus pacientes e ainda lecionar no outro período. Rapidamente caiu no sono.

De sono leve, sentiu-se incomodada por barulhos vindos da rua. Gritos. Pensou estar sonhando, mas decidiu levantar-se e saber o que realmente acontecia.

Avistou uma mulher e um homem. Ela gritando, pedindo socorro, tentando levantar a calça e ele ao seu redor, tentando segurá-la. Que filho da puta! Pensou esbravejada.

Levantou-se da cama, foi até a sala e – sempre de olho na janela – ligou para a policia. Informou o que via e pediu uma providência daqueles que dizem fazer a segurança da sociedade. Depois do corpo mole e ironias ao telefone, decidiram mandar uma viatura.

Ela, que já não acredita em promessas, permaneceu acordada com o telefone nas mãos, esperando ver se realmente chegariam antes que o delinqüente conseguisse estrupar a coitada.

Chegaram. Assistiu a modesta abordagem. Achou tudo muito calmo. Afinal, o que esperar deles, não estão nem aí mesmo.

Não ouviu mais os gritos e isso, momentaneamente, a tranqüilizou. Voltou para a cama e após alguns minutos deitada, na escuridão, olhando para frente, como se estivesse fitando o vagabundo, caiu no sono outra vez. O fato já fazia parte dela. Pessoa sensível, sonhou.

A imagem ficou em sua cabeça por dias. Se pudesse, encontraria o pilantra e o espancaria, faria o que o policial não foi capaz de fazer. Delinqüente, maldito!

...

Voltando para casa, depois de mais um dia extremamente longo com Samuel, o garoto lindo, de ar sério, que não se impressionava e se abria, Veridiana encontrou um grande amigo, alguém que admira muito, o senhor João - homem forte, robusto, trabalhador, não dispõe de preguiça – e foi logo perguntando se ele também tinha visto a movimentação ocorrida em noites anteriores. João não dormia. Saia de manhã ganhava um bom dia, chegava de noite, as vezes de madrugada, lá estava ele: “Boa noite, Dona Veridiana, toma cuidado com essas ruas, mulher, já é tarde.” E respondia: “Eu sei seu João, eu sei. Mas não se preocupe comigo não, homem.”

- Se vi! A menina estava completamente maluca, pedindo socorro.

Olhava-o quieta, seus olhos de vida própria falavam algo que João não decodificada, por empolgação – ele gostava de histórias – continuou contando.

- Na hora, eu estava lá perto, mas fiquei com medo de que achassem que tivesse querendo bulir da garota e chamei o Christian para me ajudar. Você o conhece?

- Conheço sim. Logo lembrou daquele bonito rapaz de rosto jovial, hábitos afeminados e de educação fora do comum.

- Então... ela estava louca. Dizia que tinham uns bichos dentro de sua calça. Veja só, minha filha, as drogas dominam esses jovens. Onde já se viu bicho dentro de calça assim sem mais nem menos?! Nem tem mato nessas bandas. Se fosse lá pras minhas terras até que era possível.

- Nossa, seu João, que triste. Mas Christian conseguiu ajudá-la?

- E como? Assim que chegou perto ela começou a gritar pedindo socorro, correndo em direção da Avenida. Com medo de alguma desgraça, tentou segurá-la, mas ela não parava. Provavelmente alguém viu a cena e chamou a polícia.

Novamente seus olhos tentavam falar e João prosseguiu sem dar a vez.

- A sorte, Veridiana, que chamei o Christian, que não é cabra macho igual eu. Se tivesse sozinho com ela, com certeza, teria tomado uma surra para mulher de malandro nenhuma botar defeito. Quando os gambés chegaram, logo perceberam que era impossível que o rapaz tivesse querendo possuir as partes da menina, ele, coitado, estava mais assustado que ela.

Veridiana deu um riso leve, o de sempre, fez algum comentário despretensioso e saiu rapidamente, o velho amigo não levou em consideração, pois sabia que cada minuto de descanso era de um valor inestimável para ela.

Enquanto subia pensava no engano. Chegando a porta abriu um pequeno sorriso de alivio. Hoje, Veridiana, antes de chamar a policia tentar entender melhor o que vê.