segunda-feira, 22 de junho de 2009

"Você quer fogo? Como suporta a batalha contra o cigarro? ... Eu não suportei e desisti. Não do cigarro, mas da batalha. Um dia temos de pesar isso também. A gente calcula se vale a pena viver cinco ou dez anos a mais, sem o cigarro, ou se nos entregamos a essa obsessão vergonhosa, mesquinha, que mata, mas que até então preenche a vida com uma substância única, pacificadora e instigante. Depois dos cinquenta anos ela passa a ser uma das questões sérias da vida. Eu a resolvi, entre espasmos coronários, com a decisão de que vou levar o cigarro até o fim da vida. Não vou abrir mão do veneno amargo, porque não vale a pena. Você diz que não é tão difícil parar? ... É claro que não. Eu também parei, mais de uma vez, enquanto valeu a pena. Só que o dia todo passava com o registro de que eu não fumara. temos de encarar isso de frente um dia. Precisamos nos conformar com o fato de que não suportamos alguma coisa, precisamos de substâncias narcotizantes, e temos de pagar o preço delas. Fica tudo mais simples. A isso dizem: "Você não tem coragem". E eu respondo: "Pode ser que eu não tenha coragem, mas também não sou covarde, porque tenho coragem para aceitar minha obsessão"". (Sándor Márai, p. 164 - As Brasas).

Engraçado... não consigo, e nem sinto muita vontade de, fumar há uns três dias.

Infelizmente, voltei a fumar muito após os três dias.