Dia 23/03/2009 a convite de Anilton conheci, finalmente, o Samba da Vela.
Cansado, o final de semana tinha sido bem corrido, mas mesmo assim resolvi ir...
Chegamos - eu e ele - na Casa de Cultura de Santo Amaro tímidos, leigos, com cautela. A porta, um senhor sério, robusto, sentado em uma mesa com um caderno de presença me entregou a caneta. Assinei, contribui com dois reais e escrevi meu e-mail no caderno; na dúvida se seria a melhor escolha - "provavelmente ficarão me mandando aqueles e-mails (spans) chatos", pensei.
Estava bem vazio. Um salão circular, grande, várias cadeiras pretas em formato de roda (uma fileira atrás da outra) e no meio uma mesa simples, quadrada forrada com uma manta de crochê branca, azul e rosa; Em cima da mesa uma espécie de castiçal. Simples, não chamava atenção.
As pessoas foram chegando. Uns bem elegantes (chapéu panamá, sapato branco muito brilhante e camisa social bem engomada), outras nem tanto (camisa polo surrada pelo tempo, calça social pálida e chinelo de dedo gasto). Todos se sentaram e passaram a aguardar em silêncio. Ficaram iguais.
"Parece uma religião para alguns."
Ansiedade...
Era o dia da vela Rosa. Significa 'samba novo'. O espaço ficou aberto para compositores que quisessem apresentar suas novas músicas.
"Logo no dia que eu venho... vai ser sem graça."
...
Estava enganado!
Depois que tudo ficou organizado, iniciaram a noite com o hino "Acendeu a vela".
Me arrepiei na primeira música...
Cansado, o final de semana tinha sido bem corrido, mas mesmo assim resolvi ir...
Chegamos - eu e ele - na Casa de Cultura de Santo Amaro tímidos, leigos, com cautela. A porta, um senhor sério, robusto, sentado em uma mesa com um caderno de presença me entregou a caneta. Assinei, contribui com dois reais e escrevi meu e-mail no caderno; na dúvida se seria a melhor escolha - "provavelmente ficarão me mandando aqueles e-mails (spans) chatos", pensei.
Estava bem vazio. Um salão circular, grande, várias cadeiras pretas em formato de roda (uma fileira atrás da outra) e no meio uma mesa simples, quadrada forrada com uma manta de crochê branca, azul e rosa; Em cima da mesa uma espécie de castiçal. Simples, não chamava atenção.
As pessoas foram chegando. Uns bem elegantes (chapéu panamá, sapato branco muito brilhante e camisa social bem engomada), outras nem tanto (camisa polo surrada pelo tempo, calça social pálida e chinelo de dedo gasto). Todos se sentaram e passaram a aguardar em silêncio. Ficaram iguais.
"Parece uma religião para alguns."
Ansiedade...
Era o dia da vela Rosa. Significa 'samba novo'. O espaço ficou aberto para compositores que quisessem apresentar suas novas músicas.
"Logo no dia que eu venho... vai ser sem graça."
...
Estava enganado!
Depois que tudo ficou organizado, iniciaram a noite com o hino "Acendeu a vela".
Me arrepiei na primeira música...
O Hino "Acendeu a Vela"
Explicou que escreveu o samba "para de desculpar, pois tinha pisado na bola com a nega véia" e começou...
Meus olhos encheram-se de lágrimas, meu corpo se arrepiou. Que momento mágico! Uma pessoa que mal prestamos atenção, com um rosto sofrido, homogênio, trabalhor e boêmio escreveu um samba lindo e profundo, para nenhum Paulinho da Viola colocar defeito. Começou a cantoria bem timido, contido, mas seu samba era forte, se alongou por quase dez minutos, todo mundo ia aprendendo a letra cada vez que ela se repetia e força do samba deu força para ele - foi aceito -, terminou sua apresentação como um autêntico Zeca Pagodinho. Estava em casa, tranquilo, dono da situação, com seus braços abertos e o sorriso largo. Era o centro do mundo naquele momento, todos batiam palmas para marcar o samba que ele fez. Estava feliz.
Não consegui aprender a letra, ouvi com atenção, mas não estava preocupado com isso. A voz, a musicalidade, o sentimento e a honestidade da simplicidade da canção me transportou para outro universo... longe daquela sala.
...
Figura conhecida dos frenquentadores. Senhorinha, já de idade, com seu sorriso banguela aberto, convidativo, sem vergonha, nem pudor... Que energia, que beleza!
Um grupo estava produzindo um documentário sobre sua vida, então as músicas dela não eram novas, ao contrário, muito conhecidas. Eram para a gravação.
Cantou o "Bloco do Pé Inchado". A voz falha, rouca, baixinha de repente tomou forma e assimetria para conduzir um samba simples e belo.
Mágico também, que energia e eu pensando em não vir para dormir cedo.
Bloco do pé inchado - Samba da Vela - Tia Dita
Ficamos lá durante, aproximadamente, duas horas. Horas em que esqueci dos problemas do mundo que tanto me pertuba, só tinha espaço aberto para os bons pensamentos, esqueci de dívidas... te todas elas, te todos os tipos... foi bom. O sono que insistia já tinha partido, não teve forças. Veio fulminantemente forte mais tarde. Não tivemos a oportunidade de ver a vela se apagar devido ao horário, mas valeu a pena.
Fui embora ao som de um samba que falava da importância de um compositor, das visões que ele tinha das coisas ao redor para escrever uma canção e ao mesmo tempo falava de amor; sobre as pequenas coisas da vida de um casal. Muito bonito, poético. Saimos cada um com seu sorriso, trocamos poucas palavras ("Interessante... até mais, meu velho, nos vemos no Sesc."). Coloquei meu fone nos ouvidos e durante alguns minutos não procurei uma rádio, fiquei tentando lembrar as letras. Não consegui, nunca consigo, mas o exercício foi positivo, imortalizei aquela experiência. Achei uma rádio. Como um contra-ponto subliminar escutei rock and roll (Rush, Iron, Nirvana, Pink Floyd etc. Na rádio KISS Fm) até chegar em casa; estava de volta ao mundo...
Recomendo. Conheça o samba da vela, vá para pelo menos escutar uma música. Mesmo que não goste de samba, visite-os. Se gosta... não perca tempo, você entenderá tudo quando sentar na cadeira preta, decodificará de sua própria maneira as mensagens que eles passam.
É lindo, religioso, sublime!
Valeu a pena!
Até a próxima...
Abaixo segue um pequeno filme que explica mais ou menos a história deles... Trage, pense e assista!
2 comentários:
"Acendeu a vela o samba já vai começar...!"
Religioso! É essa a palavra mesmo... Só quem frequenta, pode saber o que é este "arrepio" que vc sentiu Silvinho! O samba da Vela é um acontecimento!...
VIVA!
Velho, e isso demonstra que não é preciso pirotecnia pra encantar. Olha você: esses seus textos são simples e são animais!
É isso ae: levei até um susto quando passei por aqui e vi uns 200 posts novos... vou passar com mais frequência agora.
flw
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