sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal...

Hoje é dia de esticar a lona no quintal dos fundos e começar os preparativos para a festa de logo a noite.

Cada um traz sua contribuição e, quando menos se espera, ve-se a mesa farta, cheia de iguarias.

É dia, também, da entrega do presente ao seu amigo oculto. A família e agregados, em roda, amontoados na sala ficam disputando para ver quem consegue advinhar o maior número de "amigos" e ansiosos para ver os que esses ganharam.

Logo depois, é hora de ligar o Karaokê e começar a festa sem previsão de término.

As crianças dormem em meio a bagunça e perto do amanhacer do dia, os bêbados também escolhem um cantinho. Afinal, ainda terá o almoço de amanhã.

Vem o almoço... todo mundo de ressaca. A mulherada volta com o multirão para lavar as louças e remontar a mesa, com aquilo que não foi consumido no dia anterior.

Alguns aparecem com os presentes da noite anterior e recomeça a festa.

Agora com tempo de término, final alguns precisam trabalhar para garantir a festa do próximo ano.

Esse é o Natal de algumas famílias, tempo de esquecer as inimizades, dividas e infelicidades para comemorar todos juntos, e receber a benção da reza da avó antes do alimento.

Outros Natais não são tão felizes... mas isso não vem ao caso.

Feliz Natal a todos.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Morre Lentamente - Pablo Neruda

"Quem morre?

Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o preto no branco
e os pingos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade."

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A última volta.

Desceu do ônibus olhando seu relógio no pulso esquerdo - com a mão direita segurava um livro de capa branca e amarela -, já passava da meia noite. Atravessou a avenida e seguiu equilibrando-se no meio fio para não ter que andar na via ou na poça de barro que a recente chuva formara na calçada, em forma de armadilha para seu tênis relativamente novo.

Dobrou à direita e a sua frente apenas as luzes amareladas da rua, em declive, o acompanhavam. Virou à direita novamente, com sofreguidão e apreensivo apertou os passos discretamente. Queria chegar logo em casa. De repente, ouviu o motor da moto se aproximando: sabia que não deveria estar aquela hora na rua. Quando o som já se fazia praticamente ao seu lado, notou que o motorista reduziu a potência do motor para emparelhar a motocicleta. Ouviu-se um único disparo, seco.

Não quiseram acertar-lhe pelas costas, atiraram a queima-roupa na região do peito. Foi muito rápido, não teve tempo de fechar os olhos, caiu para trás com eles abertos e só conseguiu pensar em olhar para o céu. Naquela noite quente, ela estava lá, e chorava com a cena: a lua.

Começou a chover fino, e antes que perdesse totalmente os sentidos, viu um rato atravessar a rua correndo, enquanto a moto se perdia na escuridão que nem ela poderia voltar a iluminar.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Saudades de tempos que não voltam mais

Em um dia chuvoso, andando pelas ruas do Centro, entre aquelas pessoas super apressadas e vendedores ambulantes sempre atentos para "o rapa", cairam na 25 de março.

- Boa tarde, o senhor sabe para qual lado fica o Mercado Municipal?
- Sim, siga em frente e vire a segunda à esquerda.

(...)

Na rua de enfeites natalinos, pensou nas festas que viravam a noite e que, as vezes, acabava tendo que lavar o quintal, pois não tinha sono ou, apenas, para curar a bebedeira.

Logo à frente viu, pela primeira vez - sim, suas visitas nunca tinham dado certo -, o Mercadão e ficou impressionado com sua beleza diante aos outros edíficios ao redor que já estão defasados pelo tempo.

Na rua "K" conheceu o famoso sanduíche de mortadela e enquanto comia olhava ao redor e lembrava de coisas boas. Risadas, conversas, pessoas... Quis que também estivessem ali. Comeria até explodir e conseguiu. O que não era algo tão díficil de acontecer... Teve até espaço para um mousse de chocolate.

A visita o fez voltar no tempo... no tempo que tomava chás gelados com leite no Vale do Anhangabaú; no tempo em que ficava irritadissímo, querendo ir embora rapidamente, na própria 25 de março (que fica próximo ao Mercadão. Se soubesse, ficaria o dia aguardando lá, comendo tudo o que pudesse); lembrou dos natais, dos presentes, da família; de quando a coberta caia sobre seu corpo frio e aquele beijo quentinho na testa de "boa noite, dorme com Deus e com seu anjo da guarda" vinha livrá-lo de qualquer mal.

Lembrou de que, apesar das depressões e pensamentos negativos (e/ou depressiativos), sua vida sempre foi repleta de bençãos e que lembrar-se era o que poderia fazer no presente, pois tudo é cíclico. A vida também é feita de "saudades de tempos que não voltam mais" e que é preciso tentar criar novos momentos inesquecíveis para que ela continue tendo esse valor incomensurável.

(...)

- Obrigado.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Capítulo 1

Subiu as escadas com as mão suadas, apesar do frio, fechando o guarda-chuva às pressas e pensando no que ia dizer, se estava vestido adequadamente e como seria sua vida de trabalhador dali para frente. Entrou e se identificou no balcão de informações como o candidato à vaga de auxiliar. Pediram para que aguardasse alguns minutos.
O cartório estava cheio, com calafrios no estomâgo, sua visão periférica estava temporariamente desativada e não encontrou nenhum lugar para se sentar. Ficou de pé em frente a porta e ao balcão de atendimento (autenticações e reconhecimento de firma).
Notou que os funcionários, lá do outro lado, o olhavam com curiosidade, faziam comentários e sorriam. Ficou mais inseguro e sua gastrite nervosa, que não falta em ocasiões como essa, se manifestou. Tentava adivinhar do que riam, achava que era por causa da roupa. Não se sentia avontade em roupas sociais e saiu de casa acreditando que estava bem vestido com sua mais bela calça, verde musgo, de barra italiana, pois a outra - só tinha duas - era preta e estava desbotada, além de apertada. Sua camisa era cinza e brilhava, era de seda, usava-a para ir às baladas da época que exigiam esporte fino e não autorizavam a entrada com boné, seu melhor amigo. Por alguns instantes pensou que era por isso que riam, sem o boné bordô ou o azul, ficava totalmente nú, com aquele cabelo disforme e crespo.
Depois achou que não era aquilo, tinha cortado há poucos dias, raspado na máquina nº2 e eles não o conheciam com ou sem o adereço, sua segunda pele, não poderiam achar tão estranho, a ponto de rir, pois era o primeiro contato.
seus pensamentos voltaram-se à sombrinha preta que pingava desenfreadamente no chão do recinto e que tinha uma aste quebrada, não dobrava, o que a deixava praticamente aberta, mesmo estando fechada.
Sentia suas orelhas quentes e não aguentava mais aquela situação, queria ser chamado logo para a entrevista, para terminar logo com a agonia.
Olhava disfarçadamente para cada rosto que o olhava do outro lado, através dos quadrados do balcão e após alguns longos minutos foi chamado para sentar-se na mesa de procurações, em breve começaria a entrevista com o oficial...

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Os últimos dias foram difíceis, por motivos evidentes e subliminares. No alto da colina, em época de vento forte e frio com sensações térmicas além do que realmente esta, saiu à varanda de madeira, enrolado em sua coberta com estampa xadrez, com um cigarro no beiço e uma xícara de café, enfrentando de maneira pouco sábia, seu resfriado que nunca falta à visita de velho companheiro dos invernos de “peito cheio”.
Olhava para onde não tinha o que ver devido à ausência de luz e relembrava com um sentimento que palavras não explicam, sua juventude turbulenta.
Recordava das amizades, dos lugares, dos amores, dos romances, dos livros e de tudo o que influenciou sua vida e suas crenças. Alguns pensamentos traziam mais saudades do que outros, mas se tivesse uma nova oportunidade faria de maneira diferente. Só para ver onde estaria hoje. Queria saber se o sentido que buscava há tantos anos atrás fosse realmente a solidão que daria a resposta vã.
O cigarro já estava no fim, restava-lhe poucos tragos, não mais que dois, quando lembrou da vidente que passará por seu caminho em uma tarde ensolarada de um verão distante, quando ainda jovem, jogava futebol com seus amigos, que não sabe se estão vivos e que, conseqüentemente, tem ainda menos informações sobre seu paradeiro. Ela parou o garoto e suas palavras emocionadas nunca saíram de sua cabeça confusa. Disse que, infelizmente, morreria cedo, porém pela ética da profissão, não quis dizer qual seria a causa, para isso, era necessário que pagasse pelo serviço espiritual. Sem dinheiro, como sempre, bastou saber que não viveria muito e saiu.
A tosse já fazia ruídos à comunicação interna e decidiu voltar para perto da lareira, lá o clima era mais agradável. Antes de entrar, dando o terceiro trago no cigarro que já quase queimava seus lábios, pensou que se talvez não tivesse fugido e se escondido nas colinas distantes da civilização, já tivesse passado de plano e a vidente teria acertado em sua previsão, que não era de todo erro, pois já não se pode afirmar que está vivo, apenas espera a morte chegar. Sua covardia não permite que faça isso com suas próprias mãos.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

"Você quer fogo? Como suporta a batalha contra o cigarro? ... Eu não suportei e desisti. Não do cigarro, mas da batalha. Um dia temos de pesar isso também. A gente calcula se vale a pena viver cinco ou dez anos a mais, sem o cigarro, ou se nos entregamos a essa obsessão vergonhosa, mesquinha, que mata, mas que até então preenche a vida com uma substância única, pacificadora e instigante. Depois dos cinquenta anos ela passa a ser uma das questões sérias da vida. Eu a resolvi, entre espasmos coronários, com a decisão de que vou levar o cigarro até o fim da vida. Não vou abrir mão do veneno amargo, porque não vale a pena. Você diz que não é tão difícil parar? ... É claro que não. Eu também parei, mais de uma vez, enquanto valeu a pena. Só que o dia todo passava com o registro de que eu não fumara. temos de encarar isso de frente um dia. Precisamos nos conformar com o fato de que não suportamos alguma coisa, precisamos de substâncias narcotizantes, e temos de pagar o preço delas. Fica tudo mais simples. A isso dizem: "Você não tem coragem". E eu respondo: "Pode ser que eu não tenha coragem, mas também não sou covarde, porque tenho coragem para aceitar minha obsessão"". (Sándor Márai, p. 164 - As Brasas).

Engraçado... não consigo, e nem sinto muita vontade de, fumar há uns três dias.

Infelizmente, voltei a fumar muito após os três dias.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Eu tenho um amigo, por Carlos Henrique de Castro Assis

Eu tenho um amigo que, para a sua própria sorte, não nasceu no final do século XVIII, ou durante o XIX. Se assim o destino tivesse escolhido, acredito que com a idade que tem hoje já seria um velho, restando para ele pouco tempo entre os vivos. Como sofre de romantismo, padeceria vítima do mal do século. Claro que o romantismo do qual é vítima não é aquele barato e simplista das novelas, mesmo ele servindo de modelo para dramalhões mexicanos – característica que já lhe rendeu um apelido entre os colegas de trabalho. O romantismo que tomou conta desse meu amigo abrange todo o significado da palavra. Ele é um sentimental. Sofre diante da vida por opção, e a enfrenta apenas com os sentimentos. Esforça-se para usar da razão, mas a sua imaginação, a crença na humanidade dos homens e as angustiantes descobertas artísticas e literárias sempre o distanciam de seus objetivos: colocar a cabeça no lugar, organizar os pensamentos e racionalizar, um pouquinho, o mundo. Traga seus cigarros insistentemente, buscando encontrar no tom cinza-azulado da fumaça as respostas para as injustiças incompreensíveis, para os seus prazeres materiais, espirituais e artísticos. Mesmo um fato justificável, por vezes transforma-se em uma injustiça. Identifica-se, também por opção, com os personagens tísicos dos autores russos. Compara-se a Raskholnikov, quando na verdade vive a vida como ela é, no melhor estilo rodrigueano. Refugia uma garrafa de vinho barato entre as camisas, meias e cuecas de seu guarda-roupa – companhia preferida nas noites amenas de outono, ou usada como remédio para as crises crônicas de desilusões amorosas.
A verdade é que esse meu amigo carrega para a mesa do bar boa prosa, histórias, descobertas e um companheirismo sem igual. Não teme assumir o que não sabe e nunca demonstra inveja das conquistas dos seus parceiros; pelo contrário, apóia, incentiva, opina e parabeniza. Brinca com as próprias desventuras amorosas, com a falta de grana e com as angústias imaginadas. Reclama de indisposição para beber ou sair de casa, mas sempre sai e não nega a saideira. Causa nos companheiros risos intermináveis, daqueles que fazem chorar e deixam a barriga doendo. Ouve os conselhos dos colegas com a mesma atenção que damos aos analistas quando encerram a sessão, pensa sobre o assunto e depois de semanas dá notícias de que voltou a cometer os mesmos erros. Ele não sabe, mas de tísico e triste não tem nada. Ama a vida e já está descobrindo a sombra das árvores.
Para a nossa sorte, esse amigo não nasceu no século XVIII ou XIX. Uma companhia como essa precisamos arrastar para a velhice, entregar filho para o batizado, dividir a conta do churrasco de domingo e ligar quando o carro quebra e você deixou o seguro atrasado três meses.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Desilusões de um foca

Aspirante a jornalista sai pelas ruas do bairro do Butantã, redondezas da Universidade São Judas Tadeu, em busca de algo interessante para escrever uma pequena matéria. Um exercício do curso que parecia simples, após alguns “nãos” mudou de figura, o que não desanimou seu espírito de aprendiz.
Saiu entusiasmado e logo parou para tentar convencer um senhor que varria a calçada da faculdade, cantando com uma tranqüilidade sem igual. Aborda-o, explica do que se trata e pede poucos minutos de atenção para “algumas perguntas”. O cidadão que cantava se calou imediatamente e com muita timidez, quase fugindo, desculpou-se e recusou ajudá-lo.
O garoto agradece e não desiste. “Era só o primeiro”; continuou sua caminhada e lembrou-se de uma banca de jornal que chamava sua atenção pelas revistas desbotadas na vitrine, a pouca quantidade de produtos no comércio e o fato de que lá não é vendido nenhum tipo de cigarro.
Aproxima-se cordialmente do senhor sério, que o olhava com desdém, e novamente é recebido com um não. Dessa vez, o motivo era de que o comerciante se disse “novo nessa região” e não tinha “nada para falar”.
Já iniciando seu processo psicológico de preocupação, agradeceu e saiu em busca de outra fonte.
Avista a lanchonete “Os Cobras” e percebe a placa que informa a fundação do pequeno restaurante: “desde 1935”. Os olhos brilharam, entrou com a pauta pronta, em mente; “Será que ainda é do mesmo dono? Ele está ai? Só trabalham familiares? Como era a região quando o restaurante foi criado?”.
Entrou com um sorriso no rosto, se identificou da melhor maneira possível e a “Dona Maria” lamentou não poder ajudá-lo “porque tinha faltado uma funcionária e ainda estava temperando os bifes do almoço”. O estudante, cometendo um erro de ética da profissão, insiste com sua abordagem, pois não queria perder sua matéria. Mais uma tentativa em vão, só piorou sua imagem e saiu novamente para a rua com a conclusão de que não poderia assumir a postura errônea em uma, possível, nova oportunidade.
Desanimado e inseguro não conseguiu nenhum personagem disposto a colaborar com o seu trabalho, mas voltou satisfeito, pois aprendeu que o ofício não é tão simples quanto parece. Seu laboratório o fez perceber que, na verdade, ele foi o personagem da história.
Voltando para a sala, feliz com a experiência, suspirou: “nem sempre o mar está para peixe” e sentou-se pensando que o importante é não desistir.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Use Filtro Solar

Em aula, o professor dividiu com a turma um "filme" que, provavelmente, já é conhecido por muita gente. Incluindo você que está lendo minha postagem.
O conheci há alguns anos e nunca tive uma opinião sobre. Talvez pelo pré-conceito de tê-lo visto sendo apresentado por Pedro Bial. Besteira.
Porém, na aula, entre as pescadas e lágrimas de olhos com muito sono, decidi públicá-lo aqui em "Uns tragos...".
O professor explicou que foi criado pela agência de publicidade DM9 há muitos anos atrás para uma festa de debutante, por um cara chamado Mary Schmich e só após alguns anos foi liberado que a Globo fizesse a versão traduzida na voz do jornalista.

Segue, abaixo, o texto "Use filtro solar".

Se gostar, pesquise no You Tube a versão em video. Pode ser agradável.


Use Filtro Solar

Nunca deixem de usar filtro solar!
Se eu pudesse dar uma só dica sobre o futuro,seria esta: use filtro solar.Os benefícios a longo prazo do uso de filtro solar
estão provados e comprovados pela ciência;
já o resto de meus conselhos não tem outra base confiável além de minha própria experiência errante.

Mas agora eu vou compartilhar esses conselhos com vocês.
Aproveite bem, o máximo que puder, o poder e a beleza da juventude.
Ou, então, esquece... Você nunca vai entender mesmo o poder
e a beleza da juventude até que tenham se apagado.
Mas, pode crer, daqui a vinte anos, você vai evocar as suas fotos e
perceber de um jeito - que você nem desconfia hoje em dia
quantas tantas alternativas se lhe escancaravam à sua frente,
e como você realmente tava com tudo em cima.
Você não é tão gordo(a) quanto pensa!

Não se preocupe com o futuro.
Ou então preocupe-se, se quiser, mas saiba que pré-ocupação
é tão eficaz quanto mascar chiclete
para tentar resolver uma equação de álgebra.
As encrencas de verdade de sua vida tendem a vir de coisas que nunca
passaram pela sua cabeça preocupada, e te pegam no ponto fraco às quatro
da tarde de uma terça-feira modorrenta.
Todo dia enfrente pelo menos uma coisa que te meta medo de verdade.
Cante.

Não seja leviano com o coração dos outros.
Não ature gente de coração leviano.
Use fio dental.
Não perca tempo com inveja.
Às vezes se está por cima,
às vezes por baixo.
A peleja é longa e, no fim,
é só você contra você mesmo.
Não esqueça os elogios que receber.
Esqueça as ofensas.
Se conseguir isso, me ensine.
Guarde as antigas cartas de amor.
Jogue fora os extratos bancários velhos.
Estique-se.

Não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida.
As pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam,
aos vinte e dois, o que queriam fazer da vida.
Alguns dos quarentões mais interessantes que conheço ainda não sabem.
Tome bastante cálcio.
Seja cuidadoso com os joelhos.
Você vai sentir falta deles.
Talvez você case, talvez não.
Talvez tenha filhos, talvez não.
Talvez se divorcie aos quarenta, talvez dance ciranda em suas bodas de diamante.
Faça o que fizer, não se auto-congratule demais, nem seja severo demais com você.
As suas escolhas tem sempre metade das chances de dar certo.
É assim pra todo mundo.

Desfrute de seu corpo.
Use-o de toda maneira que puder. Mesmo.
Não tenha medo de seu corpo ou do que as outras pessoas possam achar dele.
É o mais incrível instrumento que você jamais vai possuir.
Dance.
Mesmo que não tenha aonde além de seu próprio quarto.
Leia as instruções, mesmo que não vá segui-las depois.
Não leia revistas de beleza. Elas só vão fazer você se achar feio.

Dedique-se a conhecer os seus pais.
É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez.
Seja legal com seus irmãos. Eles são a melhor ponte com o seu passado
e possivelmente quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro.
Entenda que amigos vão e vem, mas nunca abra mão de uns poucos e bons.
Esforce-se de verdade para diminuir as distâncias geográficas
e de estilos de vida, porque quanto mais velho você ficar,
mais você vai precisar das pessoas que conheceu quando jovem.

More uma vez em Nova York, mas vá embora antes de endurecer.
More uma vez no Havaí, mas se mande antes de amolecer.
Viaje.

Aceite certas verdades inescapáveis:
Os preços vão subir. Os políticos vão saracotear.
Você, também, vai envelhecer.
E quando isso acontecer, você vai fantasiar que quando era jovem,
os preços eram razoáveis, os políticos eram decentes,
e as crianças, respeitavam os mais velhos.
Respeite os mais velhos.
E não espere que ninguém segure a sua barra.
Talvez você arrume uma boa aposentadoria privada.
Talvez case com um bom partido.
Mas não esqueça que um dos dois pode de repente acabar.

Não mexa demais nos cabelos senão quando você chegar aos quarenta
vai aparentar oitenta e cinco.
Cuidado com os conselhos que comprar,
mas seja paciente com aqueles que os oferecem.
Conselho é uma forma de nostalgia.
Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo,
repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale.

Mas no filtro solar, acredite!

quarta-feira, 29 de abril de 2009

"Por purificação..."

Ari passou dias distante dos afazeres da grande cidade. Dedicou-se totalmente ao cuidado de suas terras. Experimentou algumas plantações. Queria saber o que nasceria por aqueles lados, pretendia cultivar.

Cansou e voltou para a vida turbulenta das buzinas e fumaças. Na biblioteca de Babel conheceu novos exemplares sobre pensamentos emergidos e sublimados durante o cuidado com adubos, pegou-os, colou-os debaixo do braço e procurou uma boa sombra para iniciar o exercício de leitura.

Encontrou e ficou ali, "meio deitado-meio sentado", entre a grande raiz imponente que saltava o chão mas não perdia a firmeza e a personalidade, com os livros no colo, protegendo-se dos raios solares que poderiam atrapalha-lo, durante horas. A leitura o envolvia.

Levantou-se, saiu do processo cartático e sorriu... O cheiro da árvore era bem agradável.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

A loquaz companhia tentava fazê-lo entender. Já não era possível, pois seu universo não estava interligado ao solilóquio que seguia sobre o quão positivo poderia ser, para o ponto de vista cultural e político, o acontecimento do grande evento esportivo que chegaria em breve à sua cidade.

Um discursso inadequado saltou de sua falante menos culta pedindo para que se calasse. Não aguentava mais que seus devaneios fossem interrompidos por algo sem contexto ao horizonte que a mente alcançou.

Prefereiu não dividir, não tinha motivos para fazê-lo.
Levemente arrependido de sua postura pouco cortês à alguém que tentava distraí-lo, tratou de buscar um assunto com a intenção de não ser questionado sobre sua distância. - "Já ouviu falar de Norman Rockwell? Vi uma de suas obras que me disse algo sobre como nos enxergamos, alegando que não existe um eu "Eu", mas visões de "Eu" que são mutáveis dependendo de como o notamos". Algo que saiu de súbito, sem muito embasamento e reflexão, precisava iniciar...

O intelectual, com um sorriso agradável, confirmou seu conhecimento sobre autor e obra e iniciou um novo discursso e nem se deu conta que o outro já não participava mais do diálogo e tinha retornado ao seu mundo. Ao seu Eu.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Abraçou e perguntou: "Gostou, meu jovem?"

Empurrar a pedra até o cume é foda.
Ver ela descendo é mais foda ainda.

Pelo menos para mim é assim.

A montanha onde empurro minha pedra, as vezes, me proporciona momentos mais valiosos do que o salário do fim do mês pode comprar.

Na última semana pude acompanhar o show do último cd do Tom Zé (Estudando a Bossa Nova).
Sem comentários... não é só música, é uma aula de irreverência e, principalmente, conhecimento.

Uns dos melhores shows que já assisti. Nem lembrei que estava a trabalho.

Uns acham-o um louco, lunático. Talvez seja. Mas na sua loucura, trás visões tão lúcidas sobre o assunto que trata.

Para mim, um gênio em atividade.

Na companhia das mães

Cheguei na minha mãe hoje e o som, como de costume, estava ligado. Porém, não era o de sempre - mpb, forró, sertanejo e/ou samba - que embalava a tarde lá na casa dela. Do rádio saia uma voz calma e triste.

Enquanto falava com ela e com minha avó, notei que se tratava de música "gospel".

Era um Cd do Padre - galã - Fábio de Melo, me explicaram.

Músicas que lembravam "tristeza", mas todas muito bonitas. Nada de extremamente religioso, um som tranquilizador que não trás aquela sensação de "há, música gospel"... ficamos escutando juntos e algumas partes chamaram atenção.

Resolvi compartilhar uma.

Tem calma

"Tem calma na vida o jogo é de verdade
Pra ganhar a partida vai com força e coragem
São as regras do jogo é bom sempre lembrar
Diante dos desafios é preciso tentar."

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Solilóquio aquoso!

Dia cheio.
Dorme tarde e acorda cedo.

Sai correndo, dislexo.
Cadê o centro?
Concetra.

Deu certo.
Aproveite!

Ociosidade...
Uns tragos.
Saber viver...
Uns pensamentos.

A irreverência.
A melodia.
O conhecimento.
Que momento mágico.
Oficio?
Não, nesse instante não.
Arrepio,
Passou tão rápido!
Palmas!

Dismitificação.
Inesquecível!

Abrigo.
Inesperado...
Saudosismo...
Cansaço.

Sono?
Não...

Cadê meu vinho?
Meu cigarro?

Uns tragos e uns pensamentos...

Grande merda.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Che

Assisti.

Assistam!

Muito bom!

Não é um romance. Quem gosta de Ernesto, com certeza vai gostar do filme!


"Não ficamos apenas dando tiros. Nós aprendemos com a Revolução. Os que não sabem ler e escrever são mais fáceis de enganar..." (Não é ipsis literis porque não lembro muito bem, mas acho que assim não muda o contexto.)

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Ponto de vista.

Fumou o último cigarro, olhando para fora. Lembrando de quão cansativo foi seu dia. Tragava lentamente, sentindo a nicotina entrar em seus vasos sanguíneos. Durante o dia fumar não é a mesma coisa, é muito rápido. O último é mais saboroso...

Apagou-o em seu cinzeiro improvisado, foi até o banheiro, escovou os dentes e preparou-se para dormir. Já deitada, pensava rapidamente sobre o que teria que ser feito no dia seguinte e tentava esquecer, aos menos que por instantes, o que foi feito no que se passou.

Deitada, sentia as pernas doloridas e um imenso cansaço, não é fácil atender seus pacientes e ainda lecionar no outro período. Rapidamente caiu no sono.

De sono leve, sentiu-se incomodada por barulhos vindos da rua. Gritos. Pensou estar sonhando, mas decidiu levantar-se e saber o que realmente acontecia.

Avistou uma mulher e um homem. Ela gritando, pedindo socorro, tentando levantar a calça e ele ao seu redor, tentando segurá-la. Que filho da puta! Pensou esbravejada.

Levantou-se da cama, foi até a sala e – sempre de olho na janela – ligou para a policia. Informou o que via e pediu uma providência daqueles que dizem fazer a segurança da sociedade. Depois do corpo mole e ironias ao telefone, decidiram mandar uma viatura.

Ela, que já não acredita em promessas, permaneceu acordada com o telefone nas mãos, esperando ver se realmente chegariam antes que o delinqüente conseguisse estrupar a coitada.

Chegaram. Assistiu a modesta abordagem. Achou tudo muito calmo. Afinal, o que esperar deles, não estão nem aí mesmo.

Não ouviu mais os gritos e isso, momentaneamente, a tranqüilizou. Voltou para a cama e após alguns minutos deitada, na escuridão, olhando para frente, como se estivesse fitando o vagabundo, caiu no sono outra vez. O fato já fazia parte dela. Pessoa sensível, sonhou.

A imagem ficou em sua cabeça por dias. Se pudesse, encontraria o pilantra e o espancaria, faria o que o policial não foi capaz de fazer. Delinqüente, maldito!

...

Voltando para casa, depois de mais um dia extremamente longo com Samuel, o garoto lindo, de ar sério, que não se impressionava e se abria, Veridiana encontrou um grande amigo, alguém que admira muito, o senhor João - homem forte, robusto, trabalhador, não dispõe de preguiça – e foi logo perguntando se ele também tinha visto a movimentação ocorrida em noites anteriores. João não dormia. Saia de manhã ganhava um bom dia, chegava de noite, as vezes de madrugada, lá estava ele: “Boa noite, Dona Veridiana, toma cuidado com essas ruas, mulher, já é tarde.” E respondia: “Eu sei seu João, eu sei. Mas não se preocupe comigo não, homem.”

- Se vi! A menina estava completamente maluca, pedindo socorro.

Olhava-o quieta, seus olhos de vida própria falavam algo que João não decodificada, por empolgação – ele gostava de histórias – continuou contando.

- Na hora, eu estava lá perto, mas fiquei com medo de que achassem que tivesse querendo bulir da garota e chamei o Christian para me ajudar. Você o conhece?

- Conheço sim. Logo lembrou daquele bonito rapaz de rosto jovial, hábitos afeminados e de educação fora do comum.

- Então... ela estava louca. Dizia que tinham uns bichos dentro de sua calça. Veja só, minha filha, as drogas dominam esses jovens. Onde já se viu bicho dentro de calça assim sem mais nem menos?! Nem tem mato nessas bandas. Se fosse lá pras minhas terras até que era possível.

- Nossa, seu João, que triste. Mas Christian conseguiu ajudá-la?

- E como? Assim que chegou perto ela começou a gritar pedindo socorro, correndo em direção da Avenida. Com medo de alguma desgraça, tentou segurá-la, mas ela não parava. Provavelmente alguém viu a cena e chamou a polícia.

Novamente seus olhos tentavam falar e João prosseguiu sem dar a vez.

- A sorte, Veridiana, que chamei o Christian, que não é cabra macho igual eu. Se tivesse sozinho com ela, com certeza, teria tomado uma surra para mulher de malandro nenhuma botar defeito. Quando os gambés chegaram, logo perceberam que era impossível que o rapaz tivesse querendo possuir as partes da menina, ele, coitado, estava mais assustado que ela.

Veridiana deu um riso leve, o de sempre, fez algum comentário despretensioso e saiu rapidamente, o velho amigo não levou em consideração, pois sabia que cada minuto de descanso era de um valor inestimável para ela.

Enquanto subia pensava no engano. Chegando a porta abriu um pequeno sorriso de alivio. Hoje, Veridiana, antes de chamar a policia tentar entender melhor o que vê.

sábado, 28 de março de 2009

Sísifo


Desafiou os deuses e foi castigado com o trabalho.
Não é chefe, é subordinado...
Todos os dias, durante toda a eternidade, cumpre o que lhe foi traçado...

Empurre sua pedra também!
Sísifo o faz e isso o deixa feliz.
O esforço sempre vale a pena.
Só depende de você...
Faça dela seu objetivo e isso será possível.

Qual é o objetivo? Até onde isso dura?
Para sempre!

Aceite, companheiro.

Para evitar o sofrimento e a culpa, não se subestime.
Sonhe...
Cresca...
Exercite...
Acorde cedo mesmo que não exista o descanço para ti.
Crie forças!
Levante...
Vá!
Não faça de sua vida uma pedra.
Ou faça...
Mas deixe que isso o complete!

Quando chegar ao cume, sorria! Missão cumprida...
A próxima está a espera...
Lá embaixo.
Depressa...
Vivemos desafiando os deuses... e nosso castigo é esse.
Força!

"... Mal de Sísifo não é eterno. Chega a morte e o leva ao termo. Mas por mais que a morte insista vem a vida e já se infiltra. A vida se renova em cada fruto e assim se propaga a eterna luta. A vida na vida se inaugura e Sísifo, és eterno, pois, nalgum ventre outro Sísifo agora se encasula. A mesma pedra, o mesmo olhar a frente o Sísifo menino presencia. E se não fosse a luta, esta criança, o que faria?"

Carrege sua pedra, meu caro... independente de qual... que peso... se a ama ou não.
Aprenda!
Carregue!

Sempre terás uma a sua espera...
Esperando a brisa do cume para depois descer e tornar a te esperar.

sexta-feira, 27 de março de 2009

"Somos quem podemos ser..."



Auto Retrato Triplo - Norman Rockwell

3=1? 3=3? 1=3? i+e+s? ... Fabuloso!

...

"Entre um rosto e um retrato, o real e o abstrato; entre a loucura e a lucidez, entre o uniforme e a nudez. Entre o fim do mundo e o fim do mês; entre a verdade e o rock inglês; entre os outros e vocês...
Eu me sinto um estrangeiro, passageiro de algum trem. Que não passa por aqui, que não passa de ilusão.
Entre mortos e feridos, entre gritos e gemidos, (a mentira e a verdade, a solidão e a cidade). Entre um copo e outro da mesma bebida, entre tantos corpos com a mesma ferida."

A Revolta dos Dândis (Engenheiros do Hawaii)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Mafuá, por Carlos Henrique de Castro Assis

É com alegria que eu divido com vocês a notícia de que a Mojo Books publicou o conto, Mafuá, baseado na música homônima de Yamandu Costa, de um cara que admiro muito e que sempre me dá motivação para acreditar em mim. Carlos Henrique de Castro Assis.

Leiam, vale muito a pena!

Abaixo está o single. Basta clicar na imagem para carregar a página onde está o conto.


quarta-feira, 25 de março de 2009

Por trás existe um idiota, mimado, incapaz de andar com as próprias pernas...

"Ah...vida real!
Como é que eu troco de canal?"
(...)

E disse:

- As vezes é preciso morrer para viver. Muitas vezes morremos antes de nossa morte real, muitas vezes morrem nossos conceitos sobre nós mesmos e sobre os outros, sobre as pessoas que amamos, sobre o mundo interno e externo. Temos fome de alma, buscamos conhecer as necessidades do coração e para isso precisamos nos aproximar do mundo interior.

terça-feira, 24 de março de 2009

O encantador "Samba da Vela"

Dia 23/03/2009 a convite de Anilton conheci, finalmente, o Samba da Vela.

Cansado, o final de semana tinha sido bem corrido, mas mesmo assim resolvi ir...

Chegamos - eu e ele - na Casa de Cultura de Santo Amaro tímidos, leigos, com cautela. A porta, um senhor sério, robusto, sentado em uma mesa com um caderno de presença me entregou a caneta. Assinei, contribui com dois reais e escrevi meu e-mail no caderno; na dúvida se seria a melhor escolha - "provavelmente ficarão me mandando aqueles e-mails (spans) chatos", pensei.

Estava bem vazio. Um salão circular, grande, várias cadeiras pretas em formato de roda (uma fileira atrás da outra) e no meio uma mesa simples, quadrada forrada com uma manta de crochê branca, azul e rosa; Em cima da mesa uma espécie de castiçal. Simples, não chamava atenção.

As pessoas foram chegando. Uns bem elegantes (chapéu panamá, sapato branco muito brilhante e camisa social bem engomada), outras nem tanto (camisa polo surrada pelo tempo, calça social pálida e chinelo de dedo gasto). Todos se sentaram e passaram a aguardar em silêncio. Ficaram iguais.

"Parece uma religião para alguns."

Ansiedade...

Era o dia da vela Rosa. Significa 'samba novo'. O espaço ficou aberto para compositores que quisessem apresentar suas novas músicas.

"Logo no dia que eu venho... vai ser sem graça."

...

Estava enganado!

Depois que tudo ficou organizado, iniciaram a noite com o hino "Acendeu a vela".

Me arrepiei na primeira música...


O Hino "Acendeu a Vela"



Do outro lado da mesa, uma figura chamou minha atenção. Seus olhos brilhavam, parecia ansioso, observava toda a movimentação. Logo entendi, foi um dos primeiros convidados para ir ao centro apresentar seu samba. Um senhor moreno - bem simples, mais grisalhos do que pretos já apareciam, riso tremido, indeciso de que onde ficariam suas mãos (no bolso, uma sobre a outra ou coçando a orelha) - começou sua explicação convidando "seu parceiro de letra" para acompanhá-lo. O outro, um senhor aparentemente mais velho, mais alto, com mais cabelos brancos que seu companheiro, também muito envergonhado aproximou-se com as mãos para trás e continuou calado, olhando para baixo. Foi chamado apenas como encorajador, apareceu pouco no contexto.

Explicou que escreveu o samba "para de desculpar, pois tinha pisado na bola com a nega véia" e começou...

Meus olhos encheram-se de lágrimas, meu corpo se arrepiou. Que momento mágico! Uma pessoa que mal prestamos atenção, com um rosto sofrido, homogênio, trabalhor e boêmio escreveu um samba lindo e profundo, para nenhum Paulinho da Viola colocar defeito. Começou a cantoria bem timido, contido, mas seu samba era forte, se alongou por quase dez minutos, todo mundo ia aprendendo a letra cada vez que ela se repetia e força do samba deu força para ele - foi aceito -, terminou sua apresentação como um autêntico Zeca Pagodinho. Estava em casa, tranquilo, dono da situação, com seus braços abertos e o sorriso largo. Era o centro do mundo naquele momento, todos batiam palmas para marcar o samba que ele fez. Estava feliz.

Não consegui aprender a letra, ouvi com atenção, mas não estava preocupado com isso. A voz, a musicalidade, o sentimento e a honestidade da simplicidade da canção me transportou para outro universo... longe daquela sala.

...

Outros vieram e cantaram. Alguns engraçados, outros melancólicos, outros sem "sal", uns sem "açucar". Estava se tornando cansativo, até o momento em que foi chamada ao centro a Tia Dita.

Figura conhecida dos frenquentadores. Senhorinha, já de idade, com seu sorriso banguela aberto, convidativo, sem vergonha, nem pudor... Que energia, que beleza!

Um grupo estava produzindo um documentário sobre sua vida, então as músicas dela não eram novas, ao contrário, muito conhecidas. Eram para a gravação.

Cantou o "Bloco do Pé Inchado". A voz falha, rouca, baixinha de repente tomou forma e assimetria para conduzir um samba simples e belo.

Mágico também, que energia e eu pensando em não vir para dormir cedo.


Bloco do pé inchado - Samba da Vela - Tia Dita


Ficamos lá durante, aproximadamente, duas horas. Horas em que esqueci dos problemas do mundo que tanto me pertuba, só tinha espaço aberto para os bons pensamentos, esqueci de dívidas... te todas elas, te todos os tipos... foi bom. O sono que insistia já tinha partido, não teve forças. Veio fulminantemente forte mais tarde. Não tivemos a oportunidade de ver a vela se apagar devido ao horário, mas valeu a pena.

Fui embora ao som de um samba que falava da importância de um compositor, das visões que ele tinha das coisas ao redor para escrever uma canção e ao mesmo tempo falava de amor; sobre as pequenas coisas da vida de um casal. Muito bonito, poético. Saimos cada um com seu sorriso, trocamos poucas palavras ("Interessante... até mais, meu velho, nos vemos no Sesc."). Coloquei meu fone nos ouvidos e durante alguns minutos não procurei uma rádio, fiquei tentando lembrar as letras. Não consegui, nunca consigo, mas o exercício foi positivo, imortalizei aquela experiência. Achei uma rádio. Como um contra-ponto subliminar escutei rock and roll (Rush, Iron, Nirvana, Pink Floyd etc. Na rádio KISS Fm) até chegar em casa; estava de volta ao mundo...

Recomendo. Conheça o samba da vela, vá para pelo menos escutar uma música. Mesmo que não goste de samba, visite-os. Se gosta... não perca tempo, você entenderá tudo quando sentar na cadeira preta, decodificará de sua própria maneira as mensagens que eles passam.

É lindo, religioso, sublime!

Valeu a pena!

Até a próxima...

Abaixo segue um pequeno filme que explica mais ou menos a história deles... Trage, pense e assista!


terça-feira, 10 de março de 2009

Sublimação

A mente, os pensamentos, é um imenso hospício.
Sem pudor... sem medo.

Aliás... parte da mente.

Logo após o ápice do pensamento livre, vem o soldado com sua arma de choque que nos extremesse as idéias e nos torna em um jogador (cordeirinho hipócrita) seguidor de regras.

Ficamos nesse furor de sentimentos e emoções, desejosos para jogá-los... Mas já não é possível, meu caro.

Sublime-o.

Adapte-o.

"A coisa mais bela do mundo é o segredo, o intocável, o interno, a privacidade, o só seu... guarde-o!"

Não!!! Mas se guardamo-os como julgá-los? Como interpretá-los? Como dividi-los?

Foda-se!

Sublime-o...

E porque queres sabê-los?

Pronto... cordeiro tomando choque de novo!

...escrevendo em um blog...

Nem a retórica mais eloqüente é capaz de traduzir o quão satisfatório isso pode ser.