sexta-feira, 3 de julho de 2009

Os últimos dias foram difíceis, por motivos evidentes e subliminares. No alto da colina, em época de vento forte e frio com sensações térmicas além do que realmente esta, saiu à varanda de madeira, enrolado em sua coberta com estampa xadrez, com um cigarro no beiço e uma xícara de café, enfrentando de maneira pouco sábia, seu resfriado que nunca falta à visita de velho companheiro dos invernos de “peito cheio”.
Olhava para onde não tinha o que ver devido à ausência de luz e relembrava com um sentimento que palavras não explicam, sua juventude turbulenta.
Recordava das amizades, dos lugares, dos amores, dos romances, dos livros e de tudo o que influenciou sua vida e suas crenças. Alguns pensamentos traziam mais saudades do que outros, mas se tivesse uma nova oportunidade faria de maneira diferente. Só para ver onde estaria hoje. Queria saber se o sentido que buscava há tantos anos atrás fosse realmente a solidão que daria a resposta vã.
O cigarro já estava no fim, restava-lhe poucos tragos, não mais que dois, quando lembrou da vidente que passará por seu caminho em uma tarde ensolarada de um verão distante, quando ainda jovem, jogava futebol com seus amigos, que não sabe se estão vivos e que, conseqüentemente, tem ainda menos informações sobre seu paradeiro. Ela parou o garoto e suas palavras emocionadas nunca saíram de sua cabeça confusa. Disse que, infelizmente, morreria cedo, porém pela ética da profissão, não quis dizer qual seria a causa, para isso, era necessário que pagasse pelo serviço espiritual. Sem dinheiro, como sempre, bastou saber que não viveria muito e saiu.
A tosse já fazia ruídos à comunicação interna e decidiu voltar para perto da lareira, lá o clima era mais agradável. Antes de entrar, dando o terceiro trago no cigarro que já quase queimava seus lábios, pensou que se talvez não tivesse fugido e se escondido nas colinas distantes da civilização, já tivesse passado de plano e a vidente teria acertado em sua previsão, que não era de todo erro, pois já não se pode afirmar que está vivo, apenas espera a morte chegar. Sua covardia não permite que faça isso com suas próprias mãos.

Um comentário:

Laurinha disse...

Em um debate sobre Jornalismo Literário no Senac, Pedro Bial disse: "A vida sem poesia não passa de uma sala de espera para a morte".
Sem a poesia que a própria vida tem, sem enxergar sinais tão simples, ospequenos detalhes, se nao darmos valor às pequenas coisas, ai sim é uma sala de espera para morte.
Morrer não consiste apenas em deixar de respirar, existe pessoas que vivem, mas por dentro estão mortas.
Seu texto como sempre é uma delícia.
Saudadees
Beijo