sexta-feira, 22 de maio de 2009

Eu tenho um amigo, por Carlos Henrique de Castro Assis

Eu tenho um amigo que, para a sua própria sorte, não nasceu no final do século XVIII, ou durante o XIX. Se assim o destino tivesse escolhido, acredito que com a idade que tem hoje já seria um velho, restando para ele pouco tempo entre os vivos. Como sofre de romantismo, padeceria vítima do mal do século. Claro que o romantismo do qual é vítima não é aquele barato e simplista das novelas, mesmo ele servindo de modelo para dramalhões mexicanos – característica que já lhe rendeu um apelido entre os colegas de trabalho. O romantismo que tomou conta desse meu amigo abrange todo o significado da palavra. Ele é um sentimental. Sofre diante da vida por opção, e a enfrenta apenas com os sentimentos. Esforça-se para usar da razão, mas a sua imaginação, a crença na humanidade dos homens e as angustiantes descobertas artísticas e literárias sempre o distanciam de seus objetivos: colocar a cabeça no lugar, organizar os pensamentos e racionalizar, um pouquinho, o mundo. Traga seus cigarros insistentemente, buscando encontrar no tom cinza-azulado da fumaça as respostas para as injustiças incompreensíveis, para os seus prazeres materiais, espirituais e artísticos. Mesmo um fato justificável, por vezes transforma-se em uma injustiça. Identifica-se, também por opção, com os personagens tísicos dos autores russos. Compara-se a Raskholnikov, quando na verdade vive a vida como ela é, no melhor estilo rodrigueano. Refugia uma garrafa de vinho barato entre as camisas, meias e cuecas de seu guarda-roupa – companhia preferida nas noites amenas de outono, ou usada como remédio para as crises crônicas de desilusões amorosas.
A verdade é que esse meu amigo carrega para a mesa do bar boa prosa, histórias, descobertas e um companheirismo sem igual. Não teme assumir o que não sabe e nunca demonstra inveja das conquistas dos seus parceiros; pelo contrário, apóia, incentiva, opina e parabeniza. Brinca com as próprias desventuras amorosas, com a falta de grana e com as angústias imaginadas. Reclama de indisposição para beber ou sair de casa, mas sempre sai e não nega a saideira. Causa nos companheiros risos intermináveis, daqueles que fazem chorar e deixam a barriga doendo. Ouve os conselhos dos colegas com a mesma atenção que damos aos analistas quando encerram a sessão, pensa sobre o assunto e depois de semanas dá notícias de que voltou a cometer os mesmos erros. Ele não sabe, mas de tísico e triste não tem nada. Ama a vida e já está descobrindo a sombra das árvores.
Para a nossa sorte, esse amigo não nasceu no século XVIII ou XIX. Uma companhia como essa precisamos arrastar para a velhice, entregar filho para o batizado, dividir a conta do churrasco de domingo e ligar quando o carro quebra e você deixou o seguro atrasado três meses.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Desilusões de um foca

Aspirante a jornalista sai pelas ruas do bairro do Butantã, redondezas da Universidade São Judas Tadeu, em busca de algo interessante para escrever uma pequena matéria. Um exercício do curso que parecia simples, após alguns “nãos” mudou de figura, o que não desanimou seu espírito de aprendiz.
Saiu entusiasmado e logo parou para tentar convencer um senhor que varria a calçada da faculdade, cantando com uma tranqüilidade sem igual. Aborda-o, explica do que se trata e pede poucos minutos de atenção para “algumas perguntas”. O cidadão que cantava se calou imediatamente e com muita timidez, quase fugindo, desculpou-se e recusou ajudá-lo.
O garoto agradece e não desiste. “Era só o primeiro”; continuou sua caminhada e lembrou-se de uma banca de jornal que chamava sua atenção pelas revistas desbotadas na vitrine, a pouca quantidade de produtos no comércio e o fato de que lá não é vendido nenhum tipo de cigarro.
Aproxima-se cordialmente do senhor sério, que o olhava com desdém, e novamente é recebido com um não. Dessa vez, o motivo era de que o comerciante se disse “novo nessa região” e não tinha “nada para falar”.
Já iniciando seu processo psicológico de preocupação, agradeceu e saiu em busca de outra fonte.
Avista a lanchonete “Os Cobras” e percebe a placa que informa a fundação do pequeno restaurante: “desde 1935”. Os olhos brilharam, entrou com a pauta pronta, em mente; “Será que ainda é do mesmo dono? Ele está ai? Só trabalham familiares? Como era a região quando o restaurante foi criado?”.
Entrou com um sorriso no rosto, se identificou da melhor maneira possível e a “Dona Maria” lamentou não poder ajudá-lo “porque tinha faltado uma funcionária e ainda estava temperando os bifes do almoço”. O estudante, cometendo um erro de ética da profissão, insiste com sua abordagem, pois não queria perder sua matéria. Mais uma tentativa em vão, só piorou sua imagem e saiu novamente para a rua com a conclusão de que não poderia assumir a postura errônea em uma, possível, nova oportunidade.
Desanimado e inseguro não conseguiu nenhum personagem disposto a colaborar com o seu trabalho, mas voltou satisfeito, pois aprendeu que o ofício não é tão simples quanto parece. Seu laboratório o fez perceber que, na verdade, ele foi o personagem da história.
Voltando para a sala, feliz com a experiência, suspirou: “nem sempre o mar está para peixe” e sentou-se pensando que o importante é não desistir.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Use Filtro Solar

Em aula, o professor dividiu com a turma um "filme" que, provavelmente, já é conhecido por muita gente. Incluindo você que está lendo minha postagem.
O conheci há alguns anos e nunca tive uma opinião sobre. Talvez pelo pré-conceito de tê-lo visto sendo apresentado por Pedro Bial. Besteira.
Porém, na aula, entre as pescadas e lágrimas de olhos com muito sono, decidi públicá-lo aqui em "Uns tragos...".
O professor explicou que foi criado pela agência de publicidade DM9 há muitos anos atrás para uma festa de debutante, por um cara chamado Mary Schmich e só após alguns anos foi liberado que a Globo fizesse a versão traduzida na voz do jornalista.

Segue, abaixo, o texto "Use filtro solar".

Se gostar, pesquise no You Tube a versão em video. Pode ser agradável.


Use Filtro Solar

Nunca deixem de usar filtro solar!
Se eu pudesse dar uma só dica sobre o futuro,seria esta: use filtro solar.Os benefícios a longo prazo do uso de filtro solar
estão provados e comprovados pela ciência;
já o resto de meus conselhos não tem outra base confiável além de minha própria experiência errante.

Mas agora eu vou compartilhar esses conselhos com vocês.
Aproveite bem, o máximo que puder, o poder e a beleza da juventude.
Ou, então, esquece... Você nunca vai entender mesmo o poder
e a beleza da juventude até que tenham se apagado.
Mas, pode crer, daqui a vinte anos, você vai evocar as suas fotos e
perceber de um jeito - que você nem desconfia hoje em dia
quantas tantas alternativas se lhe escancaravam à sua frente,
e como você realmente tava com tudo em cima.
Você não é tão gordo(a) quanto pensa!

Não se preocupe com o futuro.
Ou então preocupe-se, se quiser, mas saiba que pré-ocupação
é tão eficaz quanto mascar chiclete
para tentar resolver uma equação de álgebra.
As encrencas de verdade de sua vida tendem a vir de coisas que nunca
passaram pela sua cabeça preocupada, e te pegam no ponto fraco às quatro
da tarde de uma terça-feira modorrenta.
Todo dia enfrente pelo menos uma coisa que te meta medo de verdade.
Cante.

Não seja leviano com o coração dos outros.
Não ature gente de coração leviano.
Use fio dental.
Não perca tempo com inveja.
Às vezes se está por cima,
às vezes por baixo.
A peleja é longa e, no fim,
é só você contra você mesmo.
Não esqueça os elogios que receber.
Esqueça as ofensas.
Se conseguir isso, me ensine.
Guarde as antigas cartas de amor.
Jogue fora os extratos bancários velhos.
Estique-se.

Não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida.
As pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam,
aos vinte e dois, o que queriam fazer da vida.
Alguns dos quarentões mais interessantes que conheço ainda não sabem.
Tome bastante cálcio.
Seja cuidadoso com os joelhos.
Você vai sentir falta deles.
Talvez você case, talvez não.
Talvez tenha filhos, talvez não.
Talvez se divorcie aos quarenta, talvez dance ciranda em suas bodas de diamante.
Faça o que fizer, não se auto-congratule demais, nem seja severo demais com você.
As suas escolhas tem sempre metade das chances de dar certo.
É assim pra todo mundo.

Desfrute de seu corpo.
Use-o de toda maneira que puder. Mesmo.
Não tenha medo de seu corpo ou do que as outras pessoas possam achar dele.
É o mais incrível instrumento que você jamais vai possuir.
Dance.
Mesmo que não tenha aonde além de seu próprio quarto.
Leia as instruções, mesmo que não vá segui-las depois.
Não leia revistas de beleza. Elas só vão fazer você se achar feio.

Dedique-se a conhecer os seus pais.
É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez.
Seja legal com seus irmãos. Eles são a melhor ponte com o seu passado
e possivelmente quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro.
Entenda que amigos vão e vem, mas nunca abra mão de uns poucos e bons.
Esforce-se de verdade para diminuir as distâncias geográficas
e de estilos de vida, porque quanto mais velho você ficar,
mais você vai precisar das pessoas que conheceu quando jovem.

More uma vez em Nova York, mas vá embora antes de endurecer.
More uma vez no Havaí, mas se mande antes de amolecer.
Viaje.

Aceite certas verdades inescapáveis:
Os preços vão subir. Os políticos vão saracotear.
Você, também, vai envelhecer.
E quando isso acontecer, você vai fantasiar que quando era jovem,
os preços eram razoáveis, os políticos eram decentes,
e as crianças, respeitavam os mais velhos.
Respeite os mais velhos.
E não espere que ninguém segure a sua barra.
Talvez você arrume uma boa aposentadoria privada.
Talvez case com um bom partido.
Mas não esqueça que um dos dois pode de repente acabar.

Não mexa demais nos cabelos senão quando você chegar aos quarenta
vai aparentar oitenta e cinco.
Cuidado com os conselhos que comprar,
mas seja paciente com aqueles que os oferecem.
Conselho é uma forma de nostalgia.
Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo,
repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale.

Mas no filtro solar, acredite!