Ninguém conseguia imaginar ao certo como seria o desenvolvimento do evento em 2008, já que no ano anterior a festa ficou marcada pela violência e vandalismo do público e da polícia no show do grupo de rap Racionais Mc's.
Ao contrário de 2007, o evento não foi tão divulgado pela mídia, trazendo chamadas em poucos dias antes do acontecimento.
O sistema de segurança mostrou-se mais amadurecido e bem preparado para alguma situação de emergência no decorrer das 24 horas de shows gratuitos para pessoas de todos os tipos.
Os palcos foram mudados de lugar, tornando os locais das atrações aparentemente mais distantes, tentando, quem sabe, diminuir as aglomerações e tumultos.
Não foram publicadas muitas notícias, ou notas, sobre acontecimentos negativos na Virada Cultural do ano em que se segue, talvez para tentar trazer de volta a credibilidade e aceitação do público para o evento, ou porque realmente não ocorreram muitos acontecimentos ruins.
Deixando de lado as expectativas de público e/ou violência, a "Virada" foi marcada pela miscigenação das tribos existentes na cidade em que ocorreu.
Era possível notar, em pequenas caminhadas pelo Vale do Anhangabaú até a Praça da Patriarca por exemplo, pessoas com estilos, gostos, pensamentos e maneiras de se vestir diferentes. Mais interessante do que isso, era perceber que, na maioria das situações, essas tribos mostravam-se respeito umas com as outras, trazendo um clima positivo a quem andava pelas ruas mal cheirosas, porém lindas, do velho centro da cidade. Uma espécie de pintura, ou uma combinação perfeita, era cruzar em frente as escadarias do Teatro Municipal, com sua iluminação amarelada, e ver um rapaz gay totalmente louco de "bala" vindo da Rave do Largo São Bento, andando ao lado de um punk ou de um daqueles caras com cara de folgado, preconceituoso, com uma camisa listrada, uma calça jeans, um tênis de molas e um boné escrito alguma frase de efeito da periferia do tipo: "1 da Sul - Capão Redondo" ou "Aliados Fortes".
Essa mistura ainda era mais nitida se tomarmos como parametrô o show do grupo teatro-musical, que é, por enquanto, pouco abordado pela mídia, porém muito conhecido por muitos jovens da atualidade através de um marketing viral - boca a boca - extremamente eficaz, O Teatro Mágico.
Com um estilo fora do comum em bandas musicais no Brasil do século XXI, lembrando, talvez alguns artistas como Ney Matogrosso ou mesmo sua ex-banda os "Secos e Molhados", o TM, como é conhecido possui um charme e uma carisma inquestionável.
Os integrantes do grupo sempre aparecem com seus rostos pintados e fantasiados como artistas do mundo circense, enquanto tocam as músicas, também como artistas de circo, fazem com que o palco se torne algo mais encantador aos olhos de quem está lá para vê-los.
Suas músicas não permitem que tentemos determinar qual é o ritmo ou o estilo que o grupo produz em cena, existe uma mistura de rock, de forró, maracatu, dentre outros segmentos músicais que costumam fazer sucesso atualmente.
Video produzido por um cinegrafista amador no show da banda O Teatro Mágico, que fez um "pout pourri" com as músicas Camarada D'Água (autoria do grupo) e Chover (ou invocação para um dia líquido) da banda Cordel do Fogo Encantado.
Possuem uma postura que, também, os difere da maioria de outras bandas. Com muitos artistas tentando arrumar mil soluções para vencer a pirataria, o grupo O Teatro Mágico anuncia nos intervalos de suas músicas que em breve o novo álbum estará a disposição gratuitamente na internet para todos, deixando transparecer que não se preocupam em ganhar menos dinheiro com vendagens de cd's, pois preferem que todos ouçam suas músicas e os conheçam por isso.
Talvez esses motivos, de indefinição de estilo ou pelo discursso "músico-comunista", tornaram possível ver tantas pessoas com perfis diferentes tão próximas umas das outras e pelo mesmo motivo.
Andando pela multidão que chegou cedo para assisti-los não era dificil se deparar com um grupo de regueirros com seus dreads balançando enquanto curtiam o som e fumavam maconha, sentindo-se os próprios "bob marleys", ou então com roqueiros com um estilo mais sério detonando suas garrafas de vinho; surfistas, skatistas, emos, crianças de todas as idades com seus rostinhos enfeitados com narizes de palhaços, além de outros muitos "tipos" de pessoas diferentes em perfeita harmonia, cantando como hino as músicas poéticas da banda.
Por todo canto era possível se encantar com as apresentações. Ás vezes, mesmo sem esperar, as pessoas eram surpreendidas por artistas de circo como um rapaz de pernas-de-pau, com seus movimentos parecidos com os de um pássaro, que desceu de rapél do alto de um prédio que tinha mais que uns 10 andares ou até mesmo por artistas independentes, anônimos, que não estavam na programação, passar andando pelas ruas tocando suas alfaias e produzindo um maracatu ecoante e muito vivo, deixando qualquer um que passava por eles com um ar de curiosidade e euforia, deixando escapar uns sorrisos e arriscando uns passos.
Contando com mais que 4 milhões de pessoas, a Virada Cultural trouxe um momento mágico aos paulistanos e aos não-paulistanos que foram ao centro 'curtir' os artistas que mais agradavam seus gostos artisticos e culturais.
Encerrando as 24 horas de diversão, sem deixar a grandiosidade de lado, podendo ser visto como uma das principais apresentações do evento em 2008, se não foi a principal, o cantor Jorge Ben Jor na tarde do dia 27 de abril deixou com certeza na memória, de quem estava lá, gravado alguma imagem, situação e/ou acontecimento, dando uma interpretação única para cada um dos milhões de adultos, crianças, idosos, homens, mulheres, gays, lésbicas, entre outros.
Essa foi a minha...
E fiz questão de compartilha-lá com você.
Por Silvio de Assis